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Por Paulo Cezar Caju
O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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O abandono dos velhos craques, ‘patrimônio nacional e imorrível’

Velha guarda da bola nunca assimilou a pendurada de chuteiras. O futebol era nossa vida e, sem apoio psicológico, acabamos nos deprimindo

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 mar 2020, 14h50

“Patrimônio nacional e imorrível”. A definição, certeira, veio de gente simples, na porta de um boteco, provavelmente em São João de Meriti, onde meu compadre Marco Antônio passa as horas jogando carteado, fumando e bebendo conhaque. Recebi uma imagem pelo zap e me lembrei dos tempos em que me drogava descontroladamente. Marco Antônio há dois anos teve um AVC e recuperou-se totalmente. Treina um time de pelada em São João e é meio indomável, apesar de introvertido, caladão. O certo seria se internar e falei com o meu irmão, Fred, para ver que tipo de ajuda a AGAP (Associação de Garantia ao Atleta Profissional) poderia oferecer. Deve receber uma pensão da CBF, mas o problema de muitos jogadores, principalmente os de minha época, vai muito além do dinheiro. É carência, abandono, apoio psicológico.

Nossa relação com o futebol e com a torcida era colossal, profunda e, acima de tudo, verdadeira. Antes da minha, então, nem se fala. Garrincha também enfrentou problemas com a bebida e foi abandonado. Quando seu pai morreu ele estava em Pau Grande e disse à família e vizinhos que seus amigos abastados e dirigentes de futebol arcariam com as despesas. Esperou, esperou e nada. O corpo do pai foi levado até o cemitério por um caminhão de lixo. Pelé está só. Tostão, recluso. Gerson, Riva, eu e, acho que todo grupo da velha guarda, nunca assimilou a pendurada de chuteiras. O futebol era nossa vida, nosso amor, nossa entrega. Sem apoio psicológico ou oferta de empregos acabamos nos deprimindo. Não é fácil ficar longe do futebol.

Marco Antônio ficou viúvo cedo, sofreu um bocado. Dividi quarto com ele na Copa de 74. É um dos maiores laterais esquerdos da história do futebol brasileiro. Nilton Santos foi o maior. Entre Marco Antônio e Marinho Bruxa? Marco Antônio, sem dúvida. Era completo, apoiava, marcava, cruzava, batia falta, era inteligente. Marinho foi genial, talento raro, mas era um peladeiro, no bom sentido, docemente irresponsável. Estamos a poucos meses de comemorar os 50 anos do Tri. É o momento de sermos procurados, badalados, exaltados. Eu posso ser localizado tomando um café no Kurt, Marco Antônio um conhaque, em São João, Riva cuidando de seus curiós, Gerson chorando em alguma transmissão da Tupi, Tostão despejando seus sentimentos em belas crônicas, Brito tomando uma cerveja em um quiosque da Ilha do Governador e o Furacão assistindo uma pelada na Praia do Leme, lembrando suas memoráveis arrancadas.

Os heróis do Tri, apesar de serem considerados “patrimônios nacionais e imorríveis”, podem ser encontrados perdidos e filmados em qualquer esquina. Deprimidos, bêbados, loucos, mas com o coração abarrotado de paixão por um futebol que se perdeu no tempo. Pra finalizar, me lembraram de mais um termo que está na moda dos comentaristas: “jogador de beirinha”. Que tal de beirinha é essa?

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