Prezada Dona Gleisi:

Ontem a senhora publicou um artigo dizendo que neste ano “teremos a oportunidade de retomar ou não a normalidade democrática”. Na sua opinião, se Lula for preso ou impedido de disputar as eleições por ser “ficha suja”, o povo brasileiro será vítima de uma trama engendrada por setores autoritários que se especializaram em perseguir o representante máximo da esperança popular.

Pôxa, Dona Gleisi, tá todo mundo com o saco cheio dessa conversa. Acaso foram os setores autoritários que mandaram reformar o tríplex, que aceitaram o agradinho de Atibaia, que enriqueceram os filhos e os irmãos num período que corresponde à permanência no poder? Lula teve direito a ampla defesa, foi condenado por duas instâncias e teve o habeas corpus preventivo negado pelo STJ, tudo por unanimidade.

Acabou, ponto final.

A teimosia da senhora — ou seria desespero? — sugere que não existe ninguém honesto no nosso sistema judiciário. Dos juízes da primeira instância às turmas do TRF-4 e do STJ, são todos conspiradores que desejam destruir o país com a prisão do homem mais inocente do mundo. Parece o enredo de um romance furreca de espionagem, livro que a senhora terá tempo de escrever quando também estiver no xilindró.

Ah, não se esqueça de acrescentar as personagens do STF, já que o objetivo do seu artigo, que se trai pela própria negação, é pressionar a corte sobre “uma questão fundamental para a democracia e o Estado de Direito”. Na lógica desvairada da senhora, o correto seria colocar um único cidadão acima da lei, como se fosse um rei inviolável. Acredite, Dona Gleisi, o resto do país espera apenas que a lei seja igual para todos.

Lula será um preso político? Seria, devido ao simples fato de ter sido presidente, mas a verdade, infelizmente, é que não passará de um político preso, conforme o trocadilho, já que cedeu às facilidades e pisou na bola como um corrupto qualquer. Essa, Dona Gleisi, foi a maior traição da história recente do Brasil. Por que será que ele fez isso? Seria a influência das más companhias?

Por falar nisso, esta não é a última carta que escrevo para a senhora. Enviarei a próxima por ocasião da sua prisão, que não tarda, a menos que os eleitores do Paraná a reelejam para mais uma temporada de foro privilegiado. Entendo que o medo da cadeia faça estragos na cabeça de uma pessoa, mas, convenhamos, a senhora passou dos limites há algum tempo.

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