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Ponte Preta: “ninguém chega impunemente a presidente da República!”

Não há, nas cartilhas escolares mais recentes, uma quantidade de textos digna do “antológico Lalau”

Por Maicon Tenfen Atualizado em 12 jun 2018, 11h29 - Publicado em 12 jun 2018, 11h24

Faz 50 anos que o Stanislaw Ponte Preta foi desta para a melhor.

Está sendo esquecido aos poucos e completamente. O que perpetua a obra de um escritor são os leitores e os livros didáticos. Como no Brasil não existem leitores, somos forçados a esperar o máximo da segunda opção. E é justamente aí que se encontra o problema.

Não há, nas cartilhas escolares mais recentes, uma quantidade de textos digna do — como ele mesmo se definiu, pra zoar — “antológico Lalau”. De repente as editoras e os fazedores de manuais poderiam reverter esse quadro. Sem dúvida seria lucrativo: do Ponte Preta só não gosta quem não leu.

Curioso é que, apesar da extravagante popularidade nos anos 50 e 60, esse tal Stanislaw nunca existiu em carne e osso. Como Tia Zulmira, Primo Altamirando, Rosamundo e outros, era mais um personagem criado por um certo Sérgio Porto (1923-1968), ex-funcionário do Banco do Brasil que num belo dia resolveu escrever para os jornais.

Muito do material publicado cotidianamente foi reunido em livros que causaram furor em sua época. Destaque para os dois volumes do Febeapá, ou seja, Festival de Besteiras que Assolam o País, assim como Dois Amigos e um Chato, Garoto Linha Dura e As Cariocas (esse mais puxando para a “literatura”).

Assim como seu criador, Stanislaw Ponte Preta fazia pinta de bonvivant. “Entre as três coisas melhores desta vida”, escreveu, “comer está em segundo e dormir em terceiro”. Até porque não cansava de repetir uma máxima que ficou famosa — “Ou todos nos locupletamos, ou restaure-se a moralidade” — sabia melhor do que ninguém que “o sol nasce pra todos e a sombra pra quem é vivo”.

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Em matéria de religião, por sua vez, era taxativo:

— Crer em Deus é fácil. Nos padres é que é difícil.

Em certa altura dos anos 60, dado o vigoroso avanço no comportamento das senhoras e senhoritas, naquele instante identificadas como o sexo perdido — perdido, de novo segundo o Lalau, porque havia muito marmanjo com preguiça de procurar —, surgiu numa mesa da boemia carioca o desabafo de que ninguém no mundo entendia de mulher, só o diabo.

— Que diabo, que nada! — ponderou o Stanislaw. — Nem ele entende de mulher. Se entendesse, não teria aquele par de chifres na cabeça.

Brasileiro profissional, tinha um pensamento bem atravessado a respeito da vida pública. Insistia que “a melhor política ainda é não se meter com política”. E lascava, sob o nariz dos militares no poder:

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— Política tem esta desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso, em nome da liberdade.

Caso a Família, Deus e a Propriedade reclamassem com a velha justificativa do crescimento econômico, o Ponte Preta ponderava:

— A borracha é nossa, mas por enquanto está na mão do guarda.

Quanto aos políticos, não acreditava que algum seria necessariamente eficiente caso possuísse um bom preparo. A creolina também é bem preparada e serve para limpar as privadas.

Faleceu precocemente em 1968, alguns meses antes do AI-5 e da censura pesada. O que não escreveria atualmente se estivesse acompanhando os analfabetos da Câmara e os coronéis do Senado? De qualquer forma registrou uma frase de terrível ambiguidade que hoje poderia ser aplicada a quaisquer dos nossos ex-presidentes, inclusive dos que continuam em liberdade:

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— Ninguém chega impunemente a presidente da república!

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