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É verdade que a volta da Monarquia pode salvar o Brasil?

Como fantasia nostálgica, o retorno de um monarca possui beleza e eloquência, mas será que isso seria viável num cenário real de disputa pelo poder?

Por Maicon Tenfen 27 dez 2017, 07h43

O Brasil sempre esteve em crise, mas nunca de um modo tão completo, caótico, desesperançado e alarmante como nos dias que correm. Não é de admirar, portanto, que as fantasias nostálgicas mais estapafúrdias estejam vicejando nas cabeças de brasileiros que ainda acreditam numa saída miraculosa do buraco. Fantasias nostálgicas? São aqueles períodos do passado — um passado que normalmente não vivemos — em que tudo era bom, honesto, limpo, organizado e promissor, ou seja, o oposto completo do que encaramos na realidade atual. Sonhar com o passado não faz mal a ninguém, é claro, o problema é quando o sonho se torna realidade e acabamos por ressuscitar aqueles cadáveres que ainda ficaram com o pezinho de fora. Cito duas fantasias nostálgicas recorrentes nas redes sociais: a volta da Ditadura Militar e a volta da Monarquia.

Sobre a primeira, uma rápida visita às discussões dos entusiastas é mais do que suficiente para entender a frivolidade com que tratam o tema: nunca houve ditadura no Brasil, e se houve torturamos pouco, matamos menos ainda, devíamos ter agido como os chilenos, ou pior, perdemos a chance de promover fuzilamentos em massa com valas comuns do tamanho do Maracanã, viva a pátria, ninguém segura a juventude do Brasil! Apesar do cenário apocalíptico, a cereja do bolo fica por conta da corrupção, o eterno problema básico do país. Sempre se roubou à farta no Brasil, com mão grande e aloprada, menos no mágico período que começa em 1964 e termina em 1985. Ninguém jogou dinheiro público no mato, mesmo com projetos faraônicos como a Transamazônica, e ninguém — em nenhum escalão — desviou verbas de nenhuma das usinas nucleares que simbolizaram o milagre econômico artificial do governo militar.

Quanto à segunda fantasia nostálgica, a volta de um regime monárquico, ela é sedutora por se apresentar de modo polido e muito pouco raivoso. A base da argumentação monarquista se encontra nos relativos sucessos do governo de D. Pedro II (1840-1889), o mais longevo e estável de toda a nossa história. Enquanto os países vizinhos sofriam golpes sucessivos em suas republiquetas de araque, a monarquia brasileira tinha pernas para se ocupar de projetos que criaram um sentido do que significava ser brasileiro no século máximo do nacionalismo. O último grande ato da monarquia foi a libertação total dos escravos, um canetaço que custaria o trono e o destino do país, sequestrado por um bando de republicanos rudes que, sob o álibi da igualdade entre os homens, trouxeram a tirania, a roubalheira e a desgovernabilidade, pragas que chegaram incólumes aos dias de hoje.

Esse talvez seja o mérito do movimento monarquista: mostrar que a República não é um bem em si, que ela possui falhas e precisa de observância severa para funcionar. Fora isso, que pode ocorrer como processo educativo, não dá para vislumbrar quais seriam as vantagens de um governo monárquico em Brasília (ou no Rio de Janeiro, completando outra fantasia nostálgica que é trazer a capital de volta à praia!). Fosse quem fosse o Imperador, ele receberia um poder moderador que o colocaria acima dos demais poderes? É lógico que não. Sem o preparo e a consciência de um Pedro II, que ademais foi criticado por certos arroubos absolutistas, o poder pessoal do imperador poderia deflagrar crises institucionais incontornáveis. Isso quer dizer que hoje uma monarquia brasileira só seria possível como símbolo nacional, ou seja, enfeite. E será que precisamos de mais enfeites nos palácios do poder?

Não adianta, não tem jeito. Sonhar com o passado tem lá as suas benesses, pode enriquecer as nossas fantasias infantis e até alimentar os nossos desejos de vingança, mas nunca deixará de ser uma fuga para mundos ideais e inexistentes. Monarquias e ditaduras? Deixá-las antes que seja tarde para o arrependimento.

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