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Camille Paglia: “use roupas provocantes, mas saiba se defender”

Como todo movimento teórico, o feminismo não representa uma verdade absoluta e por isso pode ser revisto criticamente

Por Maicon Tenfen 6 nov 2017, 01h33

No post anterior – Será que toda feminista é burra? – afirmei que, por pura falta de leitura, o feminismo está se transformando num movimento dogmático e autoritário. Há algum tempo, com efeito, a luta pela igualdade de direitos cedeu espaço a uma demonização inconsequente do homem e do seu papel na sociedade.

Com pouco preparo intelectual, militantes mais jovens estão atuando como massa de manobra para que discursos raivosos e muitas vezes histéricos tomem conta do debate. Como resultado, no lugar dos benefícios que o movimento poderia trazer a mulheres e homens, temos um quadro de polaridades em que todos saem perdendo.

No fim do post, indiquei os livros da teórica americana Camille Paglia como uma possível fonte de esclarecimento e amadurecimento das questões que envolvem a mulher. Feminista histórica, Paglia é mais do que autorizada para questionar os exageros e os equívocos do feminismo contemporâneo.

Vampes & Vadias e Personas Sexuais são títulos indispensáveis a qualquer pessoa interessada na compreensão de um mundo historicamente novo em que a mulher possui papéis de destaque. Para ilustrar o pensamento da autora, organizei algumas declarações que ela deu para a imprensa brasileira e portuguesa.

Graças à intransigência do feminismo atual, certas frases causariam impacto ou mesmo revolta se saíssem da boca de um homem.

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O que é o feminismo para a senhora?

Sou uma feminista que defende a igualdade de oportunidades. Com isto quero dizer que exijo que sejam retiradas todas as barreiras existentes às mulheres em campos como a política e o mundo profissional. No entanto, oponho-me a uma proteção especial para as mulheres (…) Não acredito em proteções especiais quando alguém lhes diz alguma coisa ofensiva, a não ser que seja no domínio profissional. Acredito, sim, que as mulheres têm de falar por elas próprias e travar as suas batalhas. O que estou dizendo com isto é também que nem tudo na nossa vida pode ser controlado, nem tudo na nossa vida é politicamente correto. (Expresso, jornal português).

 

Quem é mais forte, o homem ou a mulher?

As mulheres têm um poder tremendo sobre os homens. Se as feministas não querem esse poder, e querem ser apenas iguais aos homens, ok. O que eu vejo como observadora e como professora é que os homens são muito frágeis psicologicamente em relação às mulheres. E quando as mulheres renunciam a isso, como aconteceu na segunda onda do feminismo, elas perderam uma parte enorme do seu poder sobre os homens (…) As mulheres que têm sucesso com os homens são aquelas que mantêm uma certa qualidade maternal e entendem as fraquezas dos homens. E têm pena deles por isso. As mulheres que pedem que os homens mudem e se aproximem delas são mais nervosas, são brutais. Elas não têm confiança no seu poder como mulheres. (Folha).

 

A senhora concorda com as feministas da segunda onda que dizem que as mulheres primeiro devem consolidar uma carreira profissional e depois ter filhos?

Isso é bobagem. Existem certas realidades biológicas que não podem ser contestadas. Ou você acha que uma mulher de 45 anos vai ter energia para correr atrás de uma criança como os pais de vinte e tantos? (Folha). O feminismo não tem sido honesto sobre a realidade biológica que as mulheres têm de enfrentar se quiserem unir maternidade a ambições profissionais. Nesse caso, a natureza entra em conflito com o idealismo moderno da igualdade sexual. As feministas asseguraram às mulheres que haveria tempo suficiente para elas terem filhos mais tarde, com 40 ou 50 anos, depois de alcançarem o sucesso profissional. Quanta ignorância científica! Há muito tempo sabemos que os riscos para a mãe e para a criança são maiores quando se tem mais de 35 anos. (Época).

 

Mas como conciliar a maternidade com a faculdade, por exemplo?

As universidades têm que ser mais flexíveis na oferta de cursos para mulheres e de berçários nos campi para que elas deixem seus filhos por algum tempo. Deveria ser possível uma mulher jovem ter filhos cedo e continuar a estudar meio período ou fazendo uma disciplina por vez, levando mais tempo para se formar. As universidades se beneficiariam muito com a presença de estudantes casados e com filhos. Muitas das besteiras que são ditas sobre gênero seriam mais bem debatidas se houvesse jovens pais na sala de aula. (Folha).

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Os homens são culpados pelos problemas das mulheres?

Quando viajo, percebo que as mulheres de classe alta – sejam elas casadas ou não, mães ou não – estão infelizes com o sistema de carreiras que foi construído. Ele foi feito por homens, sim, mas o problema é o sistema, e não eles. Este sexismo, esta mania de culpar os homens por tudo é um veneno. A gente tem que se revoltar contra a máquina. Odiar os homens é um veneno porque na faculdade, por exemplo, os garotos são policiados sobre o que podem falar, como podem falar com (e das) garotas… É quase um fascismo. Acho uma estupidez que os estudos de gênero na academia não vejam a diferença entre os sexos. Homens e mulheres não são iguais. (Diálogo com a atriz Bruna Lombardi).

 

As mulheres são mais infelizes hoje em dia?

Como uma mulher poderosa, acostumada a ter total controle no escritório, pode fazer a transição para a vida doméstica, em que o marido não quer ser tratado como empregado? Qual é o perfil ideal de parceiro para essa mulher? Um homem com uma postura quase de um filho: respeitador, subserviente, que obedece ternamente a cada ordem, ou um rival confiante e altamente sexual, que exige que ela abandone a postura dominadora? (…) A infelicidade que muitas mulheres sentem hoje resulta em parte da incerteza delas sobre quem são e sobre o que querem nesta sociedade materialista, voltada para o status, que espera que a mulher se comporte como homem e ainda seja capaz de amar como mulher. (Época).

 

O que a senhora acha da Marcha das Vadias?

Você tem o direito de se vestir como Madonna nas ruas às 3h da manhã e faz parte do comportamento da mulher liberada fazer isso. Só que essa mulher tem que saber se defender. Se você vai provocar e usar roupas para mostrar que está disponível sexualmente, está dizendo: sou uma mulher que gosta de sexo e estou pronta para receber ofertas. Mesmo que as mulheres demandem o controle masculino, sempre vai haver um psicótico ou um criminoso impossível de controlar. Não dá pra pedir para a sociedade proteger você o tempo todo. Se você é uma mulher livre, você tem que aceitar que, toda vez que se vestir de modo convidativo, está enviando uma mensagem e tem de se defender se for necessário. E é claro que ninguém tem o direito de fazer nada contra você, mas só uma idiota acha que vai para as ruas de vestimentas provocativas sem correr o risco de ser atacada, culpando o Estado por isso. (Folha).

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