O cartum do desenhista Sid, publicado no portal A Charge Online, é emblemático ao mostrar o estado de euforia e felicidade que tomou conta do partido Democratas, com o resultado das urnas, na eleição municipal de domingo, 15, em Salvador, que deu ao político e gestor de 44 anos, Bruno Reis, 64% dos votos válidos, tornando-o campeão nacional das urnas do primeiro turno. Feito que realça o prefeito ACM Neto, presidente do DEM – principal mentor da façanha – como nome político de maior destaque, em seu estado, para voos mais altos e mais decisivos em 2022.
Ar feliz de garoto levado e decidido, montado em reluzente velocípede, Neto pedala veloz na Praça Tomé de Souza (no alto do Elevador Lacerda), acompanhando os passos de seu vice (Bruno) que corre contente e de sorriso maroto na direção do prédio da prefeitura da capital, sem mais ninguém à vista, além do próprio padrinho, na vitória que atrai para a Bahia atenções do País. Afinal, o feito se dá no estado proclamado aos quatro ventos como reduto maior do PT no Nordeste. A charge é perfeita em seu propósito de informar e fazer pensar, com bom humor, sobre como tudo pode mudar de repente quando o assunto é voto, urna e eleição.
É fácil imaginar a face oculta do desenho. O abatimento que desaba sobre os terreiros e arraiais políticos de oposição ao prefeito da capital e sua consagrada coligação de mais de 10 partidos – dos mais conservadores e à direita do espectro local, até o PDT, de Carlos Lupi e Ciro Gomes, e de Ana Paula, a vice dos ganhadores – uma costura de profissionais, já se vê. Parceiros que apostaram em forças díspares mas unidas, sob a batuta de Neto, para decidir o jogo já no primeiro tempo.
A derrota humilhante,– na capital que até bem pouco tempo representava a principal vitrine de poder e mando do petismo, e seus aliados de esquerda, na região nordestina, – desaba sobre muitas cabeças coroadas e de proa da política local, a exemplo dos senadores governistas Jaques Wagner (PT), Otto Alencar (PSD) e Ângelo Coronel, que sustentaram pesadas, ultrapassadas e enfadonhas campanhas (do ponto de vista da comunicação de massa e do marketing político) da major Denice (PT), do deputado pastor Sargento Isidório e sua vice Eleuza, (esposa do senador Ângelo Coronel) e de Olívia Santana (PC do B), para citar três nomes “mais expressivos” entre quase uma dezena de candidatos oposicionistas, com apoio “das esquerdas”, para tomar o Palácio Tomé de Souza .
O perdedor maior e mais evidente é o governador Rui Costa. Partiu de sua cabeça (e de seus assessores de comunicação e marqueteiros) a ideia de fragmentação de “chapas progressistas”, para empurrar o confronto decisivo para o segundo turno. Essa pulverização virou pesadelo. A segunda mais votada, major Denice, conseguiu 18% dos votos válidos. Os demais patinaram abaixo dos 10%. Enquanto Bruno Reis (nascido em Juazeiro, no Vale do São Francisco, criado e formado político e gestor na capital, onde é vice – prefeito) deitou e rolou em todas as urnas, de todas as zonas eleitorais de Salvador, acenando a bandeira do DEM e o discurso de “braço direito de ACM Neto” na administração mais bem avaliada nas pesquisas de opinião , nas maiores capitais do país. Aos opositores, na “capital da resistência”, restou a opção de torcer, no embate do segundo turno, em Recife, para Patrícia ou João Campos, herdeiros da família Arrais. Simples assim!
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br