Texto do dia 23/10/2005
Se todos roubam, posso roubar. Serei um trouxa se não o fizer, uma virgem no prostíbulo. Se todos fazem caixa 2, também posso fazer. Do contrário jamais me darei bem. Lei que todos desrespeitam deixa de valer. Inexiste crime.
O ex-tesoureiro Delúbio Soares não foi expulso do PT por que fez caixa 2. Foi expulso por “gestão temerária”, segundo conclusão do relatório da comissão de sindicância do PT. Em outras palavras: por que foi imprudente se deixando flagrar.
Walter Pomar, que ontem defendeu a expulsão de Delúbio na reunião do Diretório Nacional do PT, descartou o argumento da”gestão temerária”. Preferiu criticar o fato de Delúbio ter”terceirizado” a tarefa, repassando-a ao publicitário Marcos Valério, outro protagonista do escândalo do mensalão do PT.
Quer dizer: se Delúbio não tivesse se socorrido de Valério, tomado dinheiro além da conta e sido descoberto, tudo bem. Não teria perdido o cargo, nem sido expulso.
O PT apanharia feio caso poupasse Delúbio. Como o condenou, apanhará feio. Sinto muito, mas assim é que deve ser. Porque o crime cometido por Delúbio foi coletivo – e o PT tenta fazer de conta que não foi. Como se Delúbio tivesse sido a única prostituta de um convento de freiras piedosas.
A expulsão dele é apenas um ato de oportunismo político. Está longe de significar que o PT pretenda resgatar a defesa da ética. De resto, o DNA autoritário do PT sempre o impediu de refletir às claras sobre os erros cometidos.
Por que o PT não publica no seu site o relatório da comissão que recomendou a expulsão de Delúbio? Por que não publica a defesa que ele apresentou por escrito? Por que não publica o que se disse ontem contra e a favor dele na reunião do Diretório?
O PT negou seus votos para eleger pela via indireta o primeiro civil presidente da República depois de 21 anos de ditadura militar – e jamais se penitenciou disso com sinceridade. Negou-se a assinar a Constituição de 1988 apesar de ter participado de sua elaboração.
Apostou no fracasso do Plano Real quando o país torcia para que ele desse certo. Mas não: o PT precisava que desse errado para eleger Lula presidente em 1994. Em 2002, sem fazer maior alarde, aderiu aos fundamentos de uma política econômica que sempre combatera – porque era preciso eleger Lula presidente. E aquela seria a última chance dele.
O PT e seu líder máximo são uma fotografia esmaecida pendurada na parede. E como deve doer na alma dos que acreditaram nela.