O presidente Michel Temer é prisioneiro de uma lógica infernal. Foi por ter conseguido reunir a maioria dos votos dentro do Congresso que ele sucedeu à ex-presidente Dilma Rousseff. Como votos fora dali ele não tem, e não se preocupa em ter, para governar é obrigado a satisfazer todas as vontades, ou a maioria delas, dos que o elegeram e sustentam. Ou seja: deputados e senadores.
Não fosse por eles, Temer já teria caído há muito tempo. A rejeição pela Câmara das duas denúncias de corrupção contra Temer foi menos uma demonstração de força dele e mais uma demonstração de força dos deputados. Foi como eles tivessem dito: “Queremos manter Temer, e assim será. Para quê? Para continuarmos mandando no governo como jamais havíamos mandado”.
O polo da força mudou de endereço. Saiu do Palácio do Planalto, repartição onde despacha o presidente da República, e foi parar no Congresso e em seus anexos – os partidos e seus donos. Ironicamente isso aconteceu no momento de maior descrédito dos políticos, logo quando eles, aqui para fora, valem menos do que uma nota de três reais.
Temer não faz por mal quando loteia entre os partidos as 12 vice-presidências da Caixa Econômica Federal, por exemplo. Ou quando finge desconhecer que cada ocupante de cargo público nomeado por ele tem uma meta de propina a cumprir fixada por quem o indicou. É do jogo. Foi do jogo jogado por Lula e por Dilma durante quase 14 anos. Dificilmente deixará de ser porque não se reformou a política.
Acostumado às regras, conformado com elas, a essa altura sem futuro político a não ser que se considere como tal a tarefa de no futuro, sem mais direito a foro privilegiado, defender-se em processos por ora adormecidos, não se espere de Temer nada que não seja o mais do mesmo. De resto, a vida não está fácil para ninguém. A luta para sobreviver é cada vez mais insana.