O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, voava à Portugal na segunda-feira, desta última semana de maio e entrada de junho de ardentes fogueiras, em louvor a São João, nos festejos do Nordeste, e das vaidades nos arranjos políticos, em Brasília. Enquanto isso, fervia o bate-boca sobre quem ganhou e quem perdeu nas manifestações de rua no domingo, 26, de ponta a ponta do País. O ex-juiz da Lava Jato ganhou, seguramente, apesar do desfecho desfavorável na mudança de endereço do COAF, barrada no Congresso.
Aclamado ídolo, na forma de boneco gigante levantado na Esplanada dos Ministérios, na manifestação em Brasília, Moro viajou no dia seguinte, para participar do painel de debates sobre o tema “De Volta ao Essencial: Democracia e a Luta contra a Corrupção”, na 10 ª edição das Conferências de Estoril, evento de prestígio internacional, realizado terça e quarta-feira em ambiente acadêmico, nos arredores de Lisboa. Jornalística, política, científica e culturalmente falando, o assunto não é de pouca monta, como podem pensar alguns. Os mais importantes veículos de comunicação portugueses, como o Diário de Notícias, além de sites de grandes jornais europeus, abriram amplos e generosos espaços na cobertura do acont ecimento de encher os olhos e matar de inveja muita gente.
Na lista de participantes do encontro: cinco prêmios Nobel, dois prêmios Pritzker, dois presidentes em pleno exercício do poder, seis ex-presidentes, um presidente interino autoproclamado, quatro ex-primeiros-ministros, vários ativistas humanitários, jornalistas, arquitetos, escritores, uma cantora, um surfista, um comissário europeu, uma ex-procuradora-geral e cinco ministros em atividade (Moro entre eles). Destaque honroso, deste tipo, decorre em parte da fama local e internacional conquistada na anterior condição de juiz condutor da Lava Jato. Mas a atualidade também conta.
Moro segue em alta, mesmo com a queda da aprovação do mandatário do Palácio do Planalto, registrada em recente pesquisa do Atlas Político, publicada no jornal El País. Foi novamente apontado, como o mais popular ministro do governo, com 60% de aprovação. Ascensão confirmada nos atos de domingo, no país. Para o bem e para o mal, diga-se, a avaliar pelos ataques e criticas que o ministro recebeu nestes últimos dias. Na área externa do local das Conferências, por exemplo, Moro foi alvo de vaias e protestos de um grupo de menos de 30 ativistas (boa parte brasileiros), incomodados com “a presença do representante do Governo Bolsonaro em Portugal”. No auditório foi intensamente aplaudido desde a chegada. Aplausos reforçados quando o ministro da Justiça defendeu o seu “pacote anticrime”, como “uma oportunidade para consolidar avanços contra a corrupção e para não haver mais retrocesso”.
Estes dias, em relação ao ministro Sérgio Moro, levam a memória do jornalista à frase célebre do artista genial, Tom Jobim, sobre a inveja, um dos mais perversos sentimentos nas relações humanas em geral, e na política em particular. Ao reagir aos que o criticavam, por ser um cidadão internacional, afirmou: “Brasileiro tem ódio de quem faz sucesso”.
Pode não ser esta a mesma situação, no caso do ministro Moro. Mas que parece, parece!
Vitor Hugo Soares, jornalista, é editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail: vitors,h@uol.com.br