Sobre José Negreiros
Negreiros, como era conhecido, foi mais do que um excelente jornalista – era uma figura humana excepcional
Já escrevi aqui mesmo, no Blog do Noblat, sobre amigos que se foram. Mas nunca foi tão doído como agora. Perdi um irmão e um amigo de muitas jornadas, com quem compartilhei sonhos e projetos. E que sempre tinha uma opinião precisa sobre os acontecimentos. Negreiros, como era conhecido, foi mais do que um excelente jornalista – era uma figura humana excepcional, dono de um imenso sentido de justiça, solidariedade, lealdade e compaixão.
Como profissional, recolhia suas observações com perícia e, a partir daí, exercia sua ampla capacidade analítica. Além de conhecer tudo sobre política e sobre a alma dos políticos, tinha a cultura e a sensibilidade que hoje falta a muitos que estão no ofício. Tudo temperado com um bom humor inoxidável, que o acompanhou mesmo nos últimos tempos, quando a doença já o castigava. Era um sábio, uma espécie de Yoda que não envelheceu, tornou-se vintage com o passar dos anos.
Compartilhei com ele dúvidas e sofrimentos, esperanças e alegrias. Tenho uma dupla e profunda tristeza, porque, além de sentir a perda do amigo, sinto que poderia ter aproveitado mais a sua companhia. Devo a Raul Velloso o privilégio de ter conhecido Negreiros, a quem devo a minha amizade com Ricardo Noblat e Ana Dubeaux. Negreiros conectava as pessoas. Sabia ver o melhor de cada uma e o que não funcionava nelas. E quase sempre seu vaticínio se revelava correto.
Negreiros conviveu por muitos anos com meus filhos, Thiago e Lucas, e com meu sobrinho e sócio Cristiano. Foi mais do que um professor para nós: nunca ficou atrás dos acontecimentos e sempre soube antever os desdobramentos dos fatos no mundo. Era dono de uma preciosa curiosidade que o impulsionava a querer saber mais. Que Deus o receba com todas as homenagens que um homem de bem merece. Ser seu amigo foi uma honra. E um grande aprendizado.
Murillo de Aragão é cientista político