Texto do dia 28/09/2004
A combinação explosiva de prostituição infantil, turismo sexual, naufrágio com mortos, empresários e políticos está na base do mais novo escândalo detonado ontem simultaneamente em Manaus e em Brasília. No epicentro dele, o presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputado Benício Tavares, do PMDB, 48 anos de idade e deficiente físico. Ele se locomove em cadeira de rodas.
Em Manaus, a delegada Maria das Graças da Silva, titular da Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente, anunciou ter elementos suficientes para indiciar o deputado, Randal Mendes, cunhado dele, e mais um advogado cujo nome está sendo mantido em sigilo por crime de favorecimento à prostituição. Em Brasília, Benício confirmou parte da história contada pela delegada, mas negou ter cometido o crime.
O deputado é suspeito de ter realizado programas com garotas menores de idade em um iate de luxo que saiu de Manaus rumo ao município de Barcelos – a 450 km dali – destino de praticantes da pesca esportiva na região amazônica. De 17 garotas recrutadas em boates de Manaus, três disseram à delegada que Benício esteve no iate nos últimos dias 17, 18 e 19 e fez sexo com algumas delas, pelo menos uma menor de idade. As três reconheceram Benício por meio de fotografias. Um empresário de São Paulo foi quem organizou o passeio e o encontro com as meninas.
Amazônia, o iate alugado, tem 25m de comprimento, quartos, banheiros e cozinha. Para realizar um passeio de Manaus a Barcelos e pescar na região, um turista gasta em média US$ 3.900. Para o programa de dois dias e duas noites, cada uma das 17 garotas receberia R$ 800.
Foi um acidente ocorrido no último dia 19 que levou a delegada Maria das Graças da Silva a descobrir a história de turismo sexual. Dois dias antes, de madrugada, um iate luxuoso ancorado na Marina de Manaus aguardava a chegada de 17 garotas, a maioria menor de idade, para dar início a uma viagem de dois dias até Barcelos na companhia de 15 homens de São Paulo e de Brasília. Elas foram embarcadas pela cafetina Dilcilane de Amorim.
No domingo, dia 19, as meninas se dividiram em dois grupos para a viagem de volta a Manaus. O iate com os empresários seguiu viagem rio acima em direção a hotéis na selva. Do grupo das 17, 12 voltaram pela manhã. Restaram cinco que embarcaram de volta no final do dia no barco Princesa Laura. Uma tempestade provocou o naufrágio do barco causando a morte de 13 pessoas, entre elas as cinco garotas.
A identificação dos corpos das cinco garotas pôs a delegada Maria das Graças na pista dos protagonistas da farra. Um agente descobriu que três passageiros do iate o abandonaram em Barcelos e, no último dia 23, alugaram um avião para voltar a Manaus. A empresa Apuí Táxi Aéreo deu o nome dos três ? um deles, Benício. O outro, o cunhado dele. Ao invés de Tavares, Benício forneceu às empresa seu outro sobrenome – Melo.
Havia bebidas e drogas no iate, segundo depoimento prestado pelas três garotas à delegada. Elas desfilavam nuas e participavam de sorteio de brindes. Algumas delas portavam máquinas fotográficas, mas foram proibidas de usá-las porque havia a bordo um deputado, como foram previamente alertadas.
Benício reconhece que esteve na Amazônia para uma temporada de pesca entre os dias 17 e 22 últimos. Quanto à farra, ele nega.
– Não é verdadeira nenhuma das insinuações de que teria participado de encontros com mulheres na região – disse em nota oficial.
Benício procurou ontem deputados do PMDB para avisá-los de que desistiu de disputar a reeleição da presidência da Câmara Legislativa.