A história não vai perdoar se nossos líderes democratas não se unirem para apresentar um novo rumo que seduza os eleitores nas eleições de 2022. Mas há razões para pessimismo.
Temos quase 600 parlamentares nacionais, milhares de políticos e ex-políticos, seis ex-presidentes da República, dezenas de ex-candidatos a presidente, milhares de professores universitários, cientistas, escritores, um deles o mais popular no mundo, mas a Revista Time escolheu um jovem youtuber como nosso maior influenciador, ao lado do atual presidente.
Independente de sua correção, a escolha indica que nenhum político atual do bloco democrata é um líder influenciador. Não fomos capazes de reconhecer os erros e limitações de nossos governos, não formulamos propostas confiáveis e empolgantes para o futuro, nem parecemos caminhar para uma unidade que atraia ao eleitor em 2022.
Deixamos o país com estabilidade monetária, com programas de transferência de renda, com a democracia funcionando, mas com o quadro social muito parecido ao que herdamos do regime militar: concentração de renda, persistência da pobreza, analfabetismo, tragédia educacional, insalubridade. Ainda ficamos carimbados como corruptos e deixamos o país em um clima de guerra civil.
Não fizemos as reformas necessárias para que o Brasil enfrentasse o futuro. Não deixamos o Brasil com coesão, rumo. A consequência é a falta de propostas e a perda de credibilidade de parte dos líderes e pensadores democratas para influenciar a maioria dos eleitores. Assim, fica difícil construir rumo e coesão para manter a democracia.
Difícil a democracia sobreviver diante da pobreza persistente, da desigualdade indecente, dos desequilíbrios fiscais, da continuação dos privilégios, mesmo em tempos de epidemia, também diante da violência nas ruas; da deseducação, sobretudo da incapacidade de escolher quem pagará a conta para fechar as contas públicas e dar sustentabilidade ao processo social e econômico.
Estamos sem influenciadores porque um dos escolhidos aponta para o passado e o outro não tem obrigação de apontar caminho, ele influencia no comportamento e não na definição de rumo. Os outros, além de não serem capazes de influenciar, estão preocupados em disputar entre si para saber quem será candidato a presidente. É triste.
Cristovam Buarque foi senador pelo Distrito Federal