No conturbado espaço de encontros e desencontros, deste tempo de arrepiar na vida do País, dois personagens de relevância política e institucional se destacaram – Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia – nesta semana de maio marcada pela volta do movimento estudantil às ruas, de ponta a ponta do Brasil. Em evidente desalinho e com palavras e atitudes merecedoras de atenção – e alguma preocupação – os dois mexeram em peças estratégicas do complicado jogo de poder em andamento, cada um ao seu modo e estilo, mas ambos perigosamente explosivos.
Enquanto o presidente de República viajava, dia 14, ao sul dos Estados Unidos, na rota do Texas, para receber em Dallas, dia 16, o prêmio de Personalidade do Ano 2019, da Câmara de Comércio Brasil-EUA, o presidente da Câmara dos Deputados costeava o alambrado (permita aí, Brizola!) em Nova York. E fazia buracos na armadura do governo, em entrevistas e palestra, na costa leste americana, onde a presença do chefe da nação brasileira foi recusada com ofensas pesadas, partidas do arrogante e falastrão prefeito Bill de Blaiso.
Na política e no poder, diz o velho ensinamento popular, espaço vazio é espaço ocupado. E Maia não perdeu tempo em sua passagem por NY. À jornalistas, ele afirmou que a falta de clareza política de Bolsonaro é a principal causa das dificuldades para a aprovação da reforma da Previdência. Em palestra para empresários e potenciais investidores no Brasil, o parlamentar do DEM, partido com presenças de peso no primeiro escalão do governo, entre as quais a do chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni, foi mais direto e desconcertante, ao dizer que ainda não compreende, olhando à longo prazo, “quais são as políticas que esse governo traz para sobrepor aos 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada pelo DEM”.
E puxou a pistola, no arremate surpreendente: “não é o DEM que está no governo, mas a direita mais extrema é que governa, e até agora a gente não entendeu qual é esta agenda”. Na Bahia, ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, em seguida mostrou que estava atento, e solidário aos movimentes do correligionário chefe da Câmara, na Ilha de Manhattan. Postou no Twitter, à moda atual, de resolver praticamente tudo – incluindo recados e indiretas. Via digital Neto mandou: “Apesar do cancelamento por parte do governo federal, a Prefeitura de Salvador tem todo interesse em trazer para a nossa cidade a Convenção da ONU, sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que estava marcada para os dias 19 a 23 de agosto”.
Para os desentendidos, quinta-feira (15), a Tribuna da Bahia informou, com chamada de primeira página, que o prefeito do DEM mostra-se decidido a desafiar o governo federal, e já começou negociações, através de canais internacionais credenciados, para manter, na capital baiana, o evento da ONU, na data prevista antes da proibição. Precisa desenhar?
Irônico viajante francês, de passagem pelas calçadas do Brooklyn, em NY, pelo Farol da Barra, em Salvador, ou por algum histórico palacete de Dallas, no Texas , nestes efervescentes dias de maio, seguramente diria: “Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas”. O tucano João Dória, também em Nova York (depoia ao lado de Bolsonaro no Texas), tentou jogar panos quentes sobre o novo incêndio que começa a se formar. Mas há dúvidas sobre intenção e resultado.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br