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Ritos estranhos

A atuação de Flávio Bolsonaro se limita a levantar questões processuais

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 18h50 - Publicado em 27 jun 2020, 12h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (22/6/2020)

No dia 25 de junho, a 3.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) decidiu, por 2 votos a 1, não seguir a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e concedeu a Flávio Bolsonaro foro especial por prerrogativa de função na investigação sobre suposto desvio de dinheiro público, a chamada “rachadinha”, no gabinete do então deputado estadual e atual senador do Republicanos. Com a decisão, o inquérito deverá ser encaminhado para o Órgão Especial do TJ-RJ. O novo relator do caso será escolhido por sorteio, entre os 25 desembargadores que compõem o órgão.

No habeas corpus impetrado em favor de Flávio Bolsonaro, pediu-se também a anulação dos atos praticados ao longo do inquérito pelo juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27.ª Vara Criminal. Mas a 3.ª Câmara Criminal negou o pedido da defesa, mantendo intactas todas as decisões do magistrado de 1.ª instância, como a ordem de prisão para Fabrício Queiroz. Nesse ponto, os desembargadores aplicaram, de forma subsidiária, a regra do Código de Processo Civil que preserva a validade das decisões do juízo incompetente.

Ainda que tenha havido esse cuidado por parte dos desembargadores da 3.ª Câmara Criminal, a decisão sobre a competência relativa ao inquérito das “rachadinhas” é um tanto peculiar. Confere foro especial por prerrogativa de função a quem não mais ocupa a função. Segundo a jurisprudência do STF, tal situação só deveria ocorrer se o processo penal já estivesse em fase das alegações finais. Aqui o caso é muito diferente, não havendo sequer ação penal. Trata-se de um inquérito.

O que mais chama a atenção neste caso não é, no entanto, a decisão do TJ-RJ, que ainda pode ser revertida pelos tribunais superiores. A maior perplexidade decorre do comportamento do próprio Flávio Bolsonaro ao longo do inquérito, aberto em 2018. De lá para cá, o filho mais velho do presidente Bolsonaro não trouxe nenhum esclarecimento a respeito dos fatos investigados. Sua atuação no caso se limita a levantar insistente e repetidamente questões processuais. Desde o segundo semestre de 2018, quando o Estado revelou a existência do inquérito sobre supostas práticas ilegais no gabinete do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro não enfrentou nenhuma questão substantiva do caso. Apenas tenta, de forma acintosa, paralisar as investigações.

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No primeiro semestre do ano passado, por exemplo, Flávio Bolsonaro conseguiu levar até o Supremo uma discussão sobre quebra de sigilo bancário. Havia movimentações financeiras suspeitas, mas o filho do presidente Bolsonaro preferiu alegar que o Ministério Público não tinha o direito de usar no inquérito aquelas informações. Com esse argumento, a defesa de Flávio Bolsonaro conseguiu uma decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, interrompendo o andamento das investigações. Depois o plenário da Corte derrubou a liminar, mas o fato é que o caso ficou parado por quatro meses.

Agora, com a decisão da 3.ª Câmara Criminal tirando o inquérito da 1.ª instância, Flávio Bolsonaro anunciou que seguirá nessa mesma linha de atuação, apenas suscitando questões processuais. “Como o Tribunal de Justiça reconheceu a incompetência absoluta do juízo de 1.ª instância, a defesa agora buscará a nulidade de todas as decisões e provas relativas ao caso desde as primeiras investigações”, afirmaram, em nota, os advogados de Flávio Bolsonaro.

Não há dúvida de que a Justiça deve obedecer estritamente à legislação processual, especialmente em temas penais. Mas é também inegável que o País merece esclarecimentos substantivos a respeito do caso das “rachadinhas”. São muitos os indícios de malfeitos. São muitos os fatos mal explicados; entre outros, a repentina demissão de Fabrício Queiroz entre o primeiro e o segundo turno das eleições, as movimentações suspeitas de recursos (teve até depósito na conta da futura primeira-dama), as relações com o miliciano Adriano da Nóbrega e a hospedagem do ex-assessor na casa do advogado Frederick Wassef.

Para angariar votos em 2018, Jair Bolsonaro e filhos valeram-se do discurso do combate à corrupção e à impunidade. Agora, valem-se de artimanhas processuais – e a bandeira da Lava Jato não foi mais vista.

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