Raquel Dodge dá lição a Gilmar Mendes
Ministro fez tudo errado, segundo a procuradora
O ministro Gilmar Mendes abriu inquérito no Supremo Tribunal Federal para apurar irregularidades no transporte do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) da cadeia pública de Benfica, no Rio de Janeiro, para o Instituto Médico Legal, no Paraná. Cabral foi algemado e metido num camburão, o que revoltou Gilmar.
A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pediu ao tribunal que arquive o inquérito – e ao fazê-lo, deu uma lição de Direito ao ministro. Ensinou-lhe pelo menos quatro coisas:
+ A lei não permite que um ministro determine a abertura de inquérito sem que isso tenha sido pedido pelo Ministério Público;
+ Gilmar não tinha poder para se denominar relator do inquérito porque não foi escolhido por ninguém, nem mesmo sorteado para isso;
+ Só a presença de autoridade com foro privilegiado poderia determinar a abertura de investigação no Supremo, e esse não é o caso de Cabral;
+ Já existe um inquérito aberto no Paraná que apura eventuais abusos cometidos no transporte de Cabral.
Não há sinais de que Gilmar aprenderá a lição. Ele já marcou depoimento de Cabral para amanhã na sede do Tribunal Regional Federal da Segunda Região, no Rio.
Atualização das 12h42m – O ministro Gilmar Mendes telefonou a este blog para dizer o seguinte a propósito da nota acima:
1. Há precedentes no Supremo Tribunal Federal no caso da abertura de inquéritos sem que tenham sido pedidos pela Procuradoria Geral da República. Ele não inovou, embora pudesse fazê-lo.
2. Há 4 meses que se arrasta o inquérito aberto em Curitiba para apurar se o ex-governador Sérgio Cabral foi vítima de abuso das autoridades, e até aqui não deu em nada. “É tão simples apurar se houve ou não abuso. Por que tanta demora?” – pergunta.
3. Defender os direitos de quem se gosta é fácil, observa o ministro. Difícil é defender os direitos de quem não se gosta. “Se tolerarmos abusos, estaremos a um passo da instalação de um Estado policial”, adverte Gilmar.