Ainda se passarão alguns dias para que os políticos, as autoridades constituídas e os demais interessados compreendam a dimensão do tiro disparado pelos brasileiros durante o que ficará conhecido para sempre como o carnaval do protesto, a não ser que seja superado pelo próximo, ou por outro mais adiante, e assim sucessivamente – quem sabe?
A insatisfação com tudo o que acontecia naquele momento levou milhões de brasileiros de todo o país espontaneamente às ruas em junho de 2013. Não era por um reajuste de centavos nas passagens de ônibus, como advertiu cartaz exibido por manifestantes na Avenida Paulista. Era por tudo e mais um pouco. A paciência esgotara-se.
Desde então, a insatisfação só fez aumentar, embora represada pelo desencanto, e outra vez funcionou como espoleta para o que se viu agora. Em junho de 2013, os brasileiros escolheram a hora. Agora, aproveitaram a hora. Nas duas ocasiões, surpreenderam os que os julgavam pelo menos conformados ou à espera de falar nas urnas.
A explosão de 2013 foi recepcionada pelo governo de então com a promessa jamais realizada de uma série de reformas. Até com a convocação de uma Constituinte, a presidente Dilma Rousseff acenou, e depois mudou de opinião. O poder estabelecido foi salvo pela ação violenta dos black blocs que assustou os manifestantes.
Nada indica que o carnaval do protesto se arrastará pelos próximos dias. E o presidente Michel Temer, com uma popularidade ao rés-do-chão, pouco poderá fazer para amainar a insatisfação coletiva. O que ele diz ou o que ele faz já não mais importa aqui fora. Ninguém o escuta. Ninguém lhe dá mais crédito. Chega a soar engraçada sua pretensão de se reeleger.
Nem por isso deve ser subestimado o que houve. As eleições de outubro deverão ocorrer sob o forte sentimento de que é preciso mudar tudo o que aí está. Quem não entender isso corre o risco de dançar.