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Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Quando os governos falham (por Roberto Brant)

Só a reunião dos melhores, sob o manto de uma liderança iluminada, pode evitar nossa ruína

Por Roberto Brant
1 abr 2021, 12h00

As democracias evoluíram através do tempo para que a qualidade dos governantes eleitos não afetasse de modo irreversível a vida das nações. Com esse fim desenvolveu instituições de controle e de compartilhamento dos poderes, para impedir que um governo absoluto ficasse livre para cometer erros absolutos.

Todos reconhecemos que o sistema democrático privilegia a liberdade diante da eficiência, na medida em que não pode impor a conciliação dos dois objetivos. Eleições livres, em que toda a população participa sem restrições, nem sempre conduzem à escolha dos melhores, porque a capacidade cognitiva das pessoas é afetada pelo nível de informação e pelos efeitos das paixões humanas.

Para enfrentar essa questão os sistemas democráticos garantem a contínua rotatividade do poder, além de submeter os governos ao controle do Legislativo e do Judiciário. Pode perfeitamente ocorrer, e ocorre com alguma frequência, que a qualidade política e moral do Poder Executivo seja em algum momento superior aos dos outros poderes, mas esta divisão e este equilíbrio dos poderes é o que assegura a maior estabilidade e bem estar no longo prazo.

O grande pensador inglês Edmund Burke no final do século XVIII já dizia que todo poder corrompe, mas o poder absoluto corrompe absolutamente.

Em tempos normais é assim que as coisas se passam. Nos momentos de crise, contudo, quando os países escolhem um governante errado o preço pode ser demasiado.

Quase todas as nações passam por momentos decisivos ao longo de sua história. Algumas saem desse teste mais fortalecidas e seguem um destino de prosperidade e de paz. Outras, infelizmente, por falta da liderança necessária, sucumbem diante dos problemas e são condenadas a uma existência medíocre e empobrecida.

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Dois exemplos tornam mais claras estas idéias. Diante dos primeiros movimentos de Hitler, um governo desfibrado na Inglaterra, em busca do apaziguamento a qualquer custo, deixou abertas as portas para a invasão alemã da Europa.

Depois do fato consumado, para salvar o país, os políticos ingleses em pânico recorreram, relutantemente, a Churchill, um espírito superior à aristocracia e à política decadentes que dominavam o país. Sua liderança salvou seu país. Vencida a guerra, a Inglaterra voltou ao normal e derrotou nas eleições o herói que já não era necessário. Assim é a política.

O outro exemplo é menos dramático, mas é uma história também cheia de lições. A Argentina, até a II Guerra, era um dos países mais ricos do mundo. De repente foi enfeitiçada por um líder demagogo e caudilhesco, que se elegeu duas vezes presidente, foi deposto, voltou e elegeu-se novamente, foi sucedido por sua viúva e, como um fantasma imortal, continuou assombrando a vida política do país, elegendo sob sua marca a maioria dos presidentes até hoje.

O resultado é que o país jogou fora seu destino e tornou-se, talvez para sempre, um país irrelevante, cheio de pobreza e sem futuro à vista. A democracia que, no limite, salvou a Inglaterra, não foi suficiente para salvar a Argentina. A paixão política do povo argentino foi maior do que as instituições da democracia.

A história do Brasil é cheia de percalços. Desde que cheguei ao mundo passamos por duas ditaduras. Tivemos alguns governos verdadeiramente medíocres, pelo menos duas aventuras inconsequentes e apenas três governos de qualidade – Juscelino, Fernando Henrique e Michel Temer.

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O saldo é que ainda sobrevivemos, mas nosso destino continua incerto. Deixamos de nos aproximar dos países mais ricos e estamos ficando para trás.

Estamos mais uma vez diante de nosso destino. Estamos sendo devastados pela pandemia e a nossa economia passa por uma circunstância crítica. Não sabemos o que vai ser de nosso povo, ameaçado pela doença e pela pobreza. Como vivemos numa sociedade livre, nenhuma ordem de comando pode nos salvar.

Só a reunião dos melhores, sob o manto de uma liderança iluminada, pode evitar nossa ruína. Quais brasileiros terão a audácia de um gesto? Se depender só do governo, estamos perdidos.

Roberto Brant escreve no Capital Político. Ele foi deputado federal constituinte por Minas Gerais, secretário de Fazenda no governo Hélio Garcia em Minas, ministro da Previdência e Assistência Social do governo de Fernando Henrique Cardoso. Preside atualmente o Instituto CNA. Escreve nos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.

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