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Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Os perigos do Natal (por André Gustavo Stumpf)

No governo Bolsonaro não há momentos de calmaria

Por André Gustavo Stumpf
25 dez 2020, 11h00

Natal é tempo perigoso. É um dos dias menos movimentados do ano. Não há notícia, a não ser que ocorra algum desastre maior, uma queda de avião ou a morte de personalidade.

Fazer jornal neste dia é ainda mais complicado porque jornalistas, gráficos e funcionários também comemoram o Natal. Todos querem sair logo e correr para casa. Isso significa concluir a primeira página no meio da tarde. É difícil achar a manchete ou produzir o editorial.

Estava na posição de fechar o jornal naquele 24 de dezembro de muitos anos atrás. Nenhum assunto merecia o editorial. Decidi escrever sobre o Natal.

Parece incrível, mas a história revela que a data não tem nada a ver com o nascimento de Jesus. Os romanos aproveitaram importante festa pagã realizada por volta do dia 25 de dezembro e cristianizaram a data, comemorando o nascimento de Jesus pela primeira vez no ano 354. Era a festa pagã, chamada Natalis Solis Invicti (“nascimento do sol invencível”), cujas comemorações aconteciam durante o solstício de inverno, entre os dias 22 e 25 de dezembro.

A origem da data é essa, mas o nascimento verdadeiro é dúvida. Na Bíblia, o evangelista Lucas afirma que Jesus nasceu na época de um grande recenseamento, que obrigava as pessoas a saírem do campo e irem às cidades se alistar. Em dezembro, os invernos na Cisjordânia são rigorosos. Por causa do frio, é difícil imaginar o menino nascendo numa estrebaria naquele período.

É provável que o nascimento tenha ocorrido entre março e outubro, quando o clima no Oriente Médio é mais ameno. A Igreja do Ocidente escolheu oficialmente a data de 25 de dezembro em meados do quarto século depois de Cristo. O objetivo da escolha era fazer coincidir o nascimento de Jesus com as festividades do solstício de inverno, celebradas há séculos pelos povos europeus.

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Foi sobre essa história que escrevi o editorial. Modéstia à parte, ficou direito. Dia seguinte recebi um telefonema do proprietário do jornal. Ele perguntou quem tinha escrito o editorial. Respondi que era de minha responsabilidade. Ele me disse: muito bem escrito. Parabéns. Mas no meu jornal Cristo nasceu no dia 25 de dezembro e não há essa história de gregos, romanos e natalis solis invicti. Cristo nasceu no Natal. Entendeu?

Aprendi, de maneira meio dramática, que a realidade as vezes se sobrepõe às nossas melhores intenções.

Lembrei da história porque estamos na época do Natal. No governo Bolsonaro não há momentos de calmaria. Tudo é crise. Quando ele não provoca, os filhos o fazem com muita competência.

Nos últimos dias, contudo, o barulho foi menor. O presidente afinal reconheceu que Joe Biden venceu a eleição para presidência dos Estados Unidos. Ele estava sendo mal informado pelo embaixador do Brasil em Washington, Nestor Foster, que é um bom conhecedor de vinhos, mas não parece entender nada de eleições norte-americanas.

O plenário do Senado rejeitou a indicação do embaixador Fabio Mendes Marzano para ocupar posição de delegado permanente do Brasil na ONU, em Genebra, na Suíça. Rejeição indiscutível: 37 votos contrários e apenas nove favoráveis.

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Ocorre que na sabatina da Comissão de Relações Exteriores o Embaixador se recusou a responder pergunta da senadora Kátia Abreu, representante do agronegócio. Ela partiu para o ataque e disse que a nomeação do diplomata ‘‘envergonhava o Itamaraty, o Senado e o Brasil’’. Os diplomatas da turma do chanceler Ernesto Araújo aprenderam que não se brinca com o pessoal do agronegócio no Congresso. Eles falam de bilhões de dólares com a maior naturalidade.

Mais ainda: o presidente Bolsonaro e seu ministro da Saúde fizeram o anúncio oficial do plano de vacinação no Brasil. O presidente fez discurso moderado, discreto e passou ao largo de suas questões com João Dória.

A vacina chinesa do Butantan, em São Paulo, será destinada a vacinar brasileiros. Aliás, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que herdou o pragmatismo do avô, afirmou que é mais barato vacinar a população do que criar planos emergenciais para levar auxílio à população. É óbvio. Mas a tragédia do óbvio é não ser percebido.

Rodrigo Maia afirmou que não colocou em votação a Medida Provisória, que autorizava o 13º salário para os beneficiários do bolsa família porque a área econômica assim solicitou. Não há dinheiro. Ele disse, na tribuna, que Bolsonaro é mentiroso. O presidente calou a boca e foi pescar em Santa Catarina. Vez por outra, a realidade aparece e se impõe de maneira dramática, porém definitiva.

São os perigos do Natal.

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André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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