Quem inventou que era um partido diferente, quem se comportou como um partido diferente durante mais de 20 anos, quem monopolizou o discurso da ética e prometeu que uma vez no poder tudo seria diferente foi o PT, não foi nenhum outro partido.
A história do país registra casos de presidentes que se elegeram como se fossem candidatos diferentes dos outros – Jânio Quadros foi um, Fernando Collor outro. Mas não registra casos de partidos que se distinguiram tão fortemente dos demais. E que como tal foram reconhecidos pelos eleitores.
Esse privilégio é do PT. Ou melhor: foi do PT.
Ele poderá dizer que descobriu mais tarde ser impossível fazer algo de muito diferente em matéria de política econômica – e que por isso não fez. Poderá dizer também que a herança maldita legada pelo PSDB o impediu de criar o número de empregos que prometera criar. Poderá dizer que a inexperiência de boa parte dos seus mais destacados quadros afetou seu desempenho administrativo.
Tudo isso poderá ser dito e justificado – embora, dificilmente, será dito.
A única coisa que o PT não poderá dizer é que foi forçado, constrangido, obrigado a usar métodos semelhantes aos dos seus adversários para ganhar eleições a qualquer custo. Métodos que ele sempre denunciou e disse execrar.
Onde está a democracia interna do PT se uma de suas seções municipais prefere disputar eleição com candidato próprio e a direção nacional mais tarde a desautoriza? Mais do que isso: passa a pregar o voto em outro candidato e a sabotar por todos os meios a candidatura do próprio partido?
Onde está a repulsa do PT ao uso e abuso do poder econômico se é ele que protagoniza no momento uma das eleições mais caras da memória recente do país?
Em que pasta o PT arquivou o discurso contra a discriminação de candidatos se seus principais líderes pedem votos em troca da garantia de que aliados do governo serão mais bem tratados pelo governo?
Está em todos os tratados sobre política que partidos existem para atingir o poder. E que uma vez que atinjam devem agir para ali permanecer.
Está também em todos os tratados que a moral dos governantes é diferente – e tem de ser – da moral dos governados.
E daí que tudo isso esteja escrito? E daí que tudo isso seja ou possa parecer verdade?
Foi o PT quem disse que era um partido diferente dos outros. Foi o PT quem se elegeu prometendo ser um partido diferente dos outros. E foi o PT quem jurou que governaria de maneira diferente dos outros.
Até aqui, está sendo igual aos outros. E justamente por causa disso, pior.