Por que o governo travou o plano de privatizações de empresas estatais? E por que travou a proposta de reforma administrativa que parecia pronta para ser despachada ao Congresso? Ora, porque o presidente Jair Bolsonaro embirrou com as duas coisas.
A primeira porque ele tem queda por um Estado forte, entendimento canhestro muito cultivado no meio militar. A reforma administrativa empacou porque ela passa por redução de pessoal, de salários e de outras vantagens do funcionalismo.
Imagine só se Bolsonaro vai topar encarar essa parada logo quando está em campanha para tentar se reeleger. Está em campanha desde o dia que tomou posse. Para ele, a próxima eleição é logo ali, embora ainda faltem mais de dois anos.
Não quer arranjar encrenca com servidores públicos. Se dependesse só dele, gastaria mais. Teme os efeitos da suspensão do auxílio emergencial contra a pandemia. E os efeitos do corte no valor do auxílio que impulsionou sua popularidade.
O grande nó que o governo tem para desatar, e lhe falta coragem para isso, não está na lei que estabeleceu o teto para gastos, mas no peso dos chamados gastos obrigatórios, em especial a folha de pagamento dos servidores. Ela cresce ano a ano.
Já equivale a 14% de todas as riquezas produzidas pelo país. No caso do Ministério da Saúde, por exemplo, dos quase 130 bilhões do Orçamento sugerido para o próximo ano, 110 bilhões são destinados ao pagamento de pessoal e de despesas obrigatórias.
O quadro se repete na maioria dos demais ministérios. O serviço público é uma torre de babel com mais de 300 planos de carreira, mais de 22 mil cargos, e mais de 130 mil postos com direito a gratificações. Não há limites para a generosidade da Viúva.
Para funções que exigem nível superior, os salários médios pagos pelo Estado são quase 4 vezes superiores aos pagos pelo setor privado. Não é por outro motivo que o Distrito Federal tem uma das maiores rendas per capita do país.
Ao invés de desatar o nó, o governo tergiversa. E admite cortes de dinheiro nas áreas mais essenciais para a população, como Saúde e Educação. O Ministério da Defesa ganhará mais 2,2 bilhões para gastar em 2021. Mais do que a Educação, que perderá dinheiro.
O Censo Demográfico, que acontece a cada 10 anos, já não foi realizado este ano, e está ameaçado de não ser no próximo. Para Bolsonaro não fará diferença. Ele não sabe direito para que serve.