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Por Coluna
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O verão antes da queda (Por Paulo Delgado)

Maioria numérica para vencer não confere superioridade para governar nem engaveta impeachment

Por Paulo Delgado
29 jan 2021, 11h00

Mantendo a tradição de descuidar do futuro o presidente pula carniça sobre as costas do Congresso na esperança de que a eleição da Mesa seja da mesma natureza do que a votação do impeachment. Volver a 2015: se o verão de Cunha custou caro, o inverno de Dilma fez-se impagável.

A eleição está claramente manipulada pelo governo para esconder o medo de um Congresso reformista que possa mudar a infértil política econômica. Pois do ponto de vista da sobrevivência da vida parlamentar está equivocado quem estiver focado nos 342 votos necessários à destituição do presidente, mesmo sabendo que ele necessita de somente 171 para engavetar o impeachment.

É só observar que se Collor e Dilma nem o mínimo tiveram, Temer, por sua vez, viu sua queda brecada duas vezes. Ou seja, queda de presidente não tem a lógica de dança de véus que é a eleição da Mesa Diretora.

Especialmente agora. Como nunca foi muito convincente o governismo dos governistas, nem parece excessivo o oposicionismo dos oposicionistas, o presidente pode estar arrumando uma boa maneira de construir uma forte oposição contra seu governo.

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Quando o inverno chegar o presidente poderá constatar que os 257 votos que busca para Lira não contêm automaticamente os 171 que ele precisa para não cair.

O processo sucessório segue sua rotina sindical e de autoajuda parlamentar. O paradoxo da interferência presidencial, cujo método de governar é não governar, só confirma o vaticínio que domina nosso admirável país entorpecido pelo vergonhoso presidencialismo que temos: “vulcão subalterno, sem nome, dos muitos que aparecem na América: logo será extinto… Essa grande falta de capacidade política que mantém seu povo inquieto, sem objetivo preciso, sem norte fixo, sem saber por que não alcança um só dia de repouso.

A força da Presidência da República não consegue fazer com que o poder e a possibilidade que a contêm possam mudar as circunstâncias da economia e influenciar o estilo da política. Porque seu titular não tem a maestria, os princípios e as preocupações adequadas ao cargo que exerce. Se o Congresso deixar-se contaminar por seu estilo nem o Governo terá condições de entregar o que promete, nem os envolvidos enterrar o que dão em troca.

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Porém, as contradições em curso, mais a memória de situações passadas, permite supor que a maioria dos deputados que não revela o voto, saiba melhor o que está pensando. Além do voto não ser oral, a virtude do voto secreto é justamente permitir que a decisão política possa contrariar interesses sem correr o risco de ser estigmatizada.

É o governo que está brincando com fogo quando enfia seu próprio impeachment na sala para não ter que falar de reformas e mudanças na sua maneira de governar.  Se a Câmara engolir o jogo, a razão de ser da nova Mesa perde muito do seu significado para a conjuntura atual.

A ansiedade do presidente com sua estabilidade o está levando a errar na forma e no tom, especialmente considerando a Casa que conhece e a maneira “oposicionista” como atuou nela. Se ele continuasse liderando só a parte folclórica do governo, seria mais difícil derrubá-lo. Mas se quiser se transformar numa rainha da Inglaterra muito ativa, logo ficará claro para todos que ele é um péssimo presidente.

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Como a expectativa geral é a de que a agenda regular do Congresso não para qualquer que seja o eleito – e são os dois candidatos mais fortes que andam dizendo isso – para dar tudo errado para o presidente é só ele continuar a empastelar a eleição da forma que vem fazendo. Tempestade perfeita quem provoca é raiva de aliado.

Talvez por isso a conta de quem vai ganhar nunca feche. E não adianta somente mostrar a foto com o candidato. Há nuances. Se alguém estiver usando máscara pode estar simbolicamente traindo o governismo atual. Se não, pode voltar a coloca-la na hora mais inconveniente para o governo. E esta hora fatal, governos não conseguem dizer quando começa.

Assim, falar de impeachment agora, contra ou a favor, é uma armadilha em que candidato independente não deve cair.  Os 257 votos para eleger um presidente são de um DNA mais inconsistente e menos emocional.

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Maioria numérica para vencer não confere superioridade para governar durante crise, nem engaveta impeachment.

Entender a eleição como um subproduto do impeachment está provocando dissidência. Deputado profissional não fala fora de hora, nem trai com antecedência, é a realidade que informa sua conduta.

Há um tipo de ancestral do establishment dos políticos vitoriosos espalhados pelos três poderes querendo sempre jogar as cartas sobre a melhor hora de derrubar um presidente. No caso atual, a conversa já começou há algum tempo e as razões são todas originadas da própria conduta do presidente.

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Outra vez ele ronda as eleições das duas mesas alimentando a precipitação e a indecisão. Porém não tenho dúvidas de que erra, tanto sobre as eleições de 2022, como a de segunda-feira próxima, quem votar pensando em impeachment.

Por fim, Lira, pragmático, está mais focado no sindicato, pobre em legisladores, uma forma de negar a realidade. Baleia administra desapontamentos, toda a realidade.  Quando o governo entendeu que seu candidato parou em 190 votos partiu como trator para cima do bloco de Baleia para abrir dissidência.

Domingo, pragmáticos e desapontados trocam ideias. O lado que escancarar melhor todos os alarmes e as ocorrências incomuns que viveram estes dias, vence. Eleição sem partido, sem nada, todos partidos. A borra grosseira e disforme que se forma tece mais um fio dessa crise alarmante.

Paulo Delgado é sociólogo e escreve no https://capitalpolitico.com/

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