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O sofrer e a alegria da Escrita (por Carlos de Almeida Vieira)

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 30 jul 2020, 19h07 - Publicado em 4 mar 2020, 12h00

O ato da escrita é um ato solitário. O escritor se defronta com um momento, ou momentos de vazios, antes de aparecer a inspiração e a capacidade artística de ouvir o inaudível com o corpo e a alma até que os pensamentos apareçam sob formas verbais. É sofrido, angustiante, amedrontador, pois não se sabe o que vai surgir. É uma luta pelas palavras e com elas no sentido de aparecer uma forma, um conteúdo e uma apreensão do que Clarice Lispector chamou de “antes do pensamento”.

“Lutar com palavras/ é luta mais vã./ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã./ São muitas, eu pouco./ Algumas, tão fortes como um javali./ Não me julgo louco./Se o fosse, teria poder de encantá-las./ Mas lúcido e frio,/ apareço e tento/ apanhar algumas/ para meu sustento/ num dia de vida”. Esses belos versos repousam na poética do nosso Drummond, em seu poema “O lutador”, evidenciando o sofrido e alegre artesanato de compor um poema, escrever uma prosa ou mesmo tentar um romance.

Há momentos que as palavras fogem, correm da nossa mente, escondem-se no aquém, como que brincando de esconder, deixando tresloucado o escritor. No entanto, para escrever é preciso ter fé; é necessário intuir que os pensamentos demoram mas chegam e que nossa capacidade artística, além de ser um mistério é alguma coisa que não se definem.

Lembro Sebastian Bach quando dizia que os anjos cantavam para ele e ele era um instrumento dos Deuses. Voltando ao nosso poeta gauche, itabirano, lemos em suas elucubrações elaboradas pelo Prof. Antonio Cândido que “a poesia está escondida, agarrada nas palavras; o trabalho poético permitirá arranjá-las de tal maneira que elas a libertem, pois a poesia não é arte de objeto…mas do nome do objeto”.

Por outro lado, escrever nos coloca num estado de êxtase também. O escritor sente mesmo que seja difícil descrever um estado de alumbramento e uma força interna de publicar o que ele apreende. O real escritor escreve o que os leitores até então não apreendiam em suas vivências existenciais. Quando os leitores podem se ler nos poemas, na prosa poética e nos romances, a Arte da Escrita cumpre sua função e o Escritor é escritor de fato.

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Termino esse escrito de hoje apoiando-me mais uma vez em Drummond quando compôs essa beleza de versos: “Penetra surdamente no reino das palavras./ Lá estão os poemas que esperam ser escritos./ Estão paralisados, mas não há desespero,/ há calma e frescura na superfície intacta./ Ei-los, sós e mudos em estado de dicionário”.

 

Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association  

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