O deputado José Dirceu (PT-SP) irá dormir nesta madrugada (se conseguir dormir) tendo diante de si duas alternativas, e apenas duas: renunciar ao mandato antes das 15 horas de hoje ou enfrentar um penoso e desmoralizante processo de cassação – para no fim perder o mandato.
Está marcado para as 15 horas o início do depoimento dele no Conselho de Ética da Câmara. Dirceu foi convocado como testemunha no processo aberto ali para cassar o mandato do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Réu pode mentir ou se recusar a responder perguntas. Testemunha, não.
Jefferson estará lá na primeira fila para interpelar Dirceu durante o tempo que julgar necessário. Uma vez que se dê por satisfeito, abandonará a sessão para protocolar hoje mesmo um pedido de abertura de processo para cassar o mandato de Dirceu por quebra de decoro parlamentar.
Dirceu terá então 24 horas para renunciar ao mandato. Depois disso, não adiantará mais fazê-lo – o processo irá em frente. E Dirceu começará a subir ao patíbulo. Aí será só uma questão de tempo – dois, três ou quatro meses, se tanto. A renúncia ao mandato o poupará de tudo isso.
A amigos, Dirceu admitiu há 15 dias que não escapará de ser cassado. De conselheiros jurídicos, ouviu que deve renunciar. A renúncia se impôs depois da revelação de que sua ex-mulher vendeu o apartamento que tinha a um sócio de Marcos Valério. E que deve o emprego que tem a ele.
Se renunciar, Dirceu poderá disputar as eleições do próximo ano – caso queira e reúna condições políticas para isso. Se for cassado, só poderá disputar eleições a partir de 2012 – o que significará na prática o encerramento de sua carreira política. Há muito no que pensar ainda?
A nova direção do PT abandonou Dirceu. Lula abandonou-o – e até mandou avisar à oposição que nada fará para impedir uma eventual cassação dele. Por terem recebido dinheiro de Valério, alguns dos deputados da “Bancada do Zé” estão ameaçados de ser cassados.
Sem dúvida, a manhã de hoje será a mais curta e melancólica da vida daquele que chegou a ser apresentado pelo presidente da República nos primeiros meses do governo como “o capitão do time” – e que sonhava em sucedê-lo a partir de primeiro de janeiro de 2011.