
O brasileiro não tem sossego. É um bombardeio permanente de notícias ruins e a inacreditável morte dos Manauaras por falta de ar. O que dirá e quem assina o atestado de óbito?
Ao fim de cada dia, vem o desafio: insônia, pesadelo ou uma drogazinha para dormir. Sonhar é proibido. E como se não bastasse, a gente não sabe se tem a companhia perigosa do indesejável Covid-19. Esta rotina se estabeleceu nos últimos dois anos e parece que não quer nos largar.
De vez em quando uma notícia boa: Trump perdeu a eleição! O teatro do absurdo profanou o templo da democracia universal, o Capitólio, espetáculo regido pelos acordes da intolerância. Prevaleceu a lei. O Bufão que perdeu nas urnas, Câmara, Senado e pode perder os direitos políticos na consumação do impeachment o que seria profilático para o ambiente político.
No entanto, não é aconselhável subestimar o “trumpismo”. O populismo, risco autoritário permanente, assume, por força do personalismo, as feições e os nomes dos seus líderes, leninismo, stalinismo, getulismo, peronismo, maoismo, chavismo, tendo pano de fundo, especialmente as mais duradouras, um catecismo ideológico como foram o nazismo, o fascismo e o comunismo. As redes sociais mobilizam a seita dos idiotas.
Apesar dos nomes de batismo, as autocracias atuais têm um farol ideológico a iluminar seus fundamentos. No caso brasileiro, o populismo bolsonarista tem como fonte de inspiração o Tradicionalismo (o T maiúsculo é para distinguir o tradicionalismo no seu sentido conservador clássico).
O recentíssimo livro Guerra pela eternidade (Ed. Unicamp) resultou de um longo trabalho do pesquisador e etnógrafo Benjamin Teittelbaum que entrevistou autores e intelectuais de extrema direita.
Originalmente, o Tradicionalismo é uma escola espiritual e filosófica que passou a ocupar o nicho político da extrema direita. A visão é destrutiva porque se apoia amplamente no anti: antiprogressista, antiglobalista, anticientífica, pela qual perpassa uma lógica de destruição do que é moderno. Curiosamente, é uma obra de “conselheiros dos líderes”: Steve Bannon/Trump, Olavo/Bolsonaro/Ernesto Araújo, Dugin/Putin, inspirados no patriarca René Guénon (1886-1951) e Julius Evola (1898-1974). Todos místicos, esotéricos e apocalípticos.
Pois bem, uma breve leitura de Teittelbaum me levou a um terrível pesadelo: a engenharia genética Tradicionalista criara um ser assustador: metade com cabelos louros e metade de cabelos negros com um bigodinho inconfundível.
Assustado e zonzo, uma bendita visão: Mônica Calazans, a primeira brasileira a tomar a vacina. Alívio. A ciência venceu a estupidez do negacionismo. Dias e noites melhores virão.
Gustavo Krause foi governador e ministro