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Por Coluna
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O pedido de desculpas na política

Sem amenizar sua culpa, a chanceler Angela Merkel pediu desculpas à população por ter provocado incertezas

Por Ricardo Noblat
28 mar 2021, 14h00

Editorial de O Estado de S. Paulo

Há quem pense que, na política, a admissão de erros é sinônimo de fraqueza, já que seria dar gratuitamente à oposição oportunidade para que ela se fortaleça. No dia 24 de março, Angela Merkel, chanceler da Alemanha e uma das lideranças políticas de maior prestígio no mundo atual, mostrou o exato oposto. Também na política os erros podem e devem ser reconhecidos.

Depois de longa negociação com os governadores de suas 16 províncias, o governo federal da Alemanha anunciou um rígido esquema de quarentena para o feriado da Páscoa, entre os dias 1.º e 5 de abril, com fechamento de lojas e proibição de cerimônias religiosas presenciais, como forma de conter a disseminação do novo coronavírus. As medidas, no entanto, foram questionadas por diversos setores da sociedade, especialmente em razão de falha de planejamento.

Diante da repercussão e dos argumentos levantados, o governo alemão recuou, revogando as medidas anunciadas. O interessante, no caso, é que Angela Merkel, mesmo reconhecendo a existência de boas razões para a decisão original, admitiu que ela foi equivocada. Sem amenizar sua culpa, a chanceler alemã pediu desculpas à população por ter provocado incertezas.

Uma vez que a decisão a respeito da quarentena de Páscoa havia sido adotada após negociação com todos os governadores, em tese era possível diluir a responsabilidade com as lideranças estaduais. No entanto, Angela Merkel não seguiu esse atalho. Reconheceu o erro e pediu desculpas, porque “a responsabilidade final é sempre minha”, disse.

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Esse modo de agir é muito mais do que mera correção moral. Ele confirma que o país está de fato sob uma efetiva liderança, que assume o peso de suas decisões. Sempre, mas especialmente em momentos de crise, a percepção de que há alguém no comando é fundamental.

Certamente, em um Estado Democrático de Direito, com separação dos Poderes e distribuição de competências, nenhuma autoridade detém poder absoluto. No entanto, e aqui está a grande lição de Angela Merkel, isso não é desculpa para que a principal liderança política de um país – em regimes presidencialistas, o presidente da República – se esquive de sua responsabilidade.

Além de demonstrar que há comando, a atitude de Angela Merkel permite corrigir erros. Segundo relatos de quem esteve na reunião virtual a respeito da decisão sobre a quarentena, a chanceler alemã disse aos governadores: “Erros devem ser chamados de erros. E, mais importante, devem ser corrigidos, se possível a tempo”.

Eis o grande benefício para a população decorrente do reconhecimento dos erros: a possibilidade de corrigir os equívocos. É simplesmente impensável que, no exercício de um cargo político, com tantas e complexas atribuições, erros não sejam cometidos. Se isso é verdade em situações normais, o que dizer em tempos de um evento absolutamente inédito, de proporções dramáticas e constantes mudanças, como é a pandemia de covid-19?

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Ao longo de um ano de pandemia, os governantes que quiseram enfrentar a situação da forma mais responsável possível provavelmente cometeram muitas decisões equivocadas, a exigir ajustes e correções. Por isso, deve ser um alívio para os alemães, por exemplo, saber que a chanceler de seu país reconhece publicamente seus erros, sem tentar escondê-los ou negá-los. A transparência é elemento essencial de um governo preocupado com o interesse público.

Assim que soube do pedido de desculpas de Angela Merkel, o presidente Jair Bolsonaro usou-o como argumento contra a quarentena. “Ela falou lá, segundo a imprensa, que os efeitos do fechar tudo são muito mais graves do que os efeitos do vírus, palavras dela, não é minha não”, disse.

Até ao distorcer o que disse a chanceler alemã, Jair Bolsonaro não assume o que faz: “palavras dela, não é minha não”. A chanceler não fez tal comparação, antes reforçou a necessidade de todos respeitarem o isolamento social.

Admitir o erro não é fraqueza, mas compromisso com o interesse público. Mas essa capacidade não se inventa, requer caráter.

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