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O mesmo de sempre

Para levar a metamorfose de Bolsonaro a sério, é preciso muita boa vontade - ou ingenuidade

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h03 - Publicado em 2 abr 2020, 14h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (2/4/2020)

Durou apenas algumas horas a suposta moderação do presidente Jair Bolsonaro ao lidar com a crise gerada pela epidemia de covid-19. Se na terça-feira à noite, em cadeia de rádio e TV, Bolsonaro deixou de lado o costumeiro tom raivoso e se esforçou para soar presidencial, defendendo “a união de todos, num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos”, na quarta-feira de manhã o presidente voltou a ser o que sempre foi e, quem sabe, sempre será.

Bolsonaro publicou em suas redes sociais um vídeo em que um homem denuncia o suposto desabastecimento da Ceasa de Belo Horizonte. O homem, então, passa a ofender os governadores que determinaram o isolamento social como forma de conter a epidemia, chamando-os de “canalhas” interessados apenas em “ganhar nome e projeção política”, enquanto “o presidente está brigando incessantemente para uma paralisação responsável”.

Trata-se de fake news – mais uma patrocinada pelo presidente, que já protagonizou o vexame de ter algumas de suas postagens suspensas pelos administradores das redes sociais por colocarem em risco a saúde pública ao disseminarem falsas informações sobre a pandemia de covid-19. Em nota encaminhada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, que administra a Ceasa, informou que a denúncia do vídeo compartilhado por Bolsonaro “é inverídica”, pois não há desabastecimento.

A ministra Tereza Cristina já vinha dizendo reiteradas vezes que não há desabastecimento. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, informou na segunda-feira que a logística para distribuição de alimentos está funcionando. Ou seja, o presidente dá crédito ao que diz um desconhecido em vez de confiar em seus próprios ministros – como, aliás, ficou claro no caso do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cuja amarga tarefa de convencer a sociedade sobre a necessidade de isolamento social é constantemente sabotada por Bolsonaro.

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Assim, o presidente solene e conciliador do pronunciamento da terça-feira em rede nacional é um personagem de ficção. Horas antes de ir à TV para tentar convencer os brasileiros de que passaria a levar a sério o que diz a ciência sobre a pandemia, Bolsonaro – o verdadeiro – distorceu uma fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, em favor dos trabalhadores que perderam renda, para dizer que “a OMS se associa ao presidente Bolsonaro” na defesa do fim do isolamento social. A repercussão da declaração de Bolsonaro obrigou o diretor da OMS a deixar de lado suas atividades para desmentir o presidente brasileiro e dizer que continua a favor do isolamento.

Além disso, no mesmo dia em que Bolsonaro pretendeu se passar por estadista na TV, o País ficou sabendo que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e articulador do chamado “gabinete do ódio”, passará a ter uma sala no Palácio do Planalto. Não se sabe o que o vereador faz na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, mas sabe-se muito bem o que ele fará junto com o pai em Brasília: continuará a alimentar as redes sociais do presidente com fake news destinadas a confundir a opinião pública e causar confusão, hábitat do bolsonarismo. A tentativa de disseminar o pânico a respeito de um suposto desabastecimento de alimentos no País é só um aperitivo do que essa turma é capaz.

Diante disso, é preciso muita boa vontade – ou ingenuidade – para levar a sério a metamorfose de Bolsonaro. Afinal, o que mudou desde que o presidente desdenhou dos mortos pela pandemia e atacou todos os que dele discordavam até horas antes do discurso na TV? Por que a “gripezinha” se transformou, de uma hora para outra, no “maior desafio de nossa geração”?

Pode-se acreditar que Bolsonaro, numa incursão pela Estrada de Damasco, tenha tido uma iluminação transcendental e se conscientizado subitamente da gravidade da crise, mas o mais provável é que o presidente, como sempre, só esteja pensando em si mesmo e na preservação de seu capital eleitoral. O ensurdecedor panelaço que acompanhou seu discurso na TV mostra que grande parte dos brasileiros não se deixou tapear.

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