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O futuro não é para populistas

Definitivamente, 2020 não tem sido um ano alvissareiro para este tipo de governante

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 18h50 - Publicado em 2 jul 2020, 13h00

Editorial de O Estado de S. Paulo

A pandemia de covid-19 deixou ainda mais claro o absoluto despreparo de líderes populistas para governar seus concidadãos. Na grande maioria dos casos, populistas se revelam muito competentes para vencer eleições, não para bem governar. Governar é uma arte que muitos já mostraram dominar desde a Politeia, com maior ou menor grau de destaque. Entretanto, governar no curso de uma crise da magnitude da atual é coisa para poucos. Superar os desafios impostos por uma crise global e com múltiplos desdobramentos – sanitários, econômicos, geopolíticos, sociais e culturais – exige dos governantes uma habilidade política sem igual e atributos pessoais que, em geral, distinguem aqueles que entram para a história como estadistas.

Do ponto de vista estritamente político, não seria exagero afirmar que a pandemia de covid-19 é a maior ameaça à farsa populista desde a 2.ª Guerra. Exceto para desonrosas exceções, como Viktor Orbán, na Hungria, Rodrigo Duterte, nas Filipinas, e Daniel Ortega, na Nicarágua, entre outros autocratas que usam a emergência sanitária como subterfúgio para concentrar ainda mais poder e calar vozes críticas em seus países, 2020, definitivamente, não tem sido um ano alvissareiro para populistas mundo afora. Isso não quer dizer, é claro, que o populismo como instrumento de ação política esteja com os dias contados. Mas é fato que a eclosão da pandemia fez as sociedades escrutinarem com muito mais diligência as ações de seus governantes. E os governantes populistas têm se saído mal neste teste de qualidade.

Há muitas décadas não se precisava tanto de líderes capazes de conduzir seus países durante uma grave crise e, tão ou mais importante do que isso, antever o futuro e preparar seus concidadãos para uma transição relativamente tranquila, ou menos imprevisível. Se a pandemia de covid-19 hoje já impõe às nações enormes reveses, inclusive para as nações desenvolvidas, o futuro não se afigura menos desafiador. Durante o webinar O mundo após a covid-19, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso, o jornalista Martin Wolf, do Financial Times, alertou para o fato de que o substancial aumento dos gastos públicos a fim de dar conta do enfrentamento da emergência sanitária ensejará elevação da carga tributária para os cidadãos e para as empresas, o que certamente terá impacto político no futuro. Tais condições fiscais adversas, aliadas à perspectiva de crescimento baixo em decorrência da queda da atividade econômica, exigirão, segundo Wolf, “maior intervencionismo político” nos países desenvolvidos. “Esta será a grande briga nos próximos dez anos. Se a alternativa for o incremento do nacionalismo, já não parece ser muito atraente. Se o futuro do Ocidente for eleger populistas, então é game over”, afirmou o chefe de análise econômica do jornal britânico. Se será assim para países desenvolvidos, o desafio será ainda maior para os países em desenvolvimento.

Populistas têm enorme dificuldade para lidar com a verdade factual. Esta verdadeira covardia para enfrentar a realidade quando ela se lhes apresenta hostil é o exato oposto do que se espera dos líderes que conduzirão as nações na direção do futuro pós-pandemia. Sabe-se que o mundo mudará, só não se sabe quão profundas serão as mudanças. Além disso, a maior emergência sanitária deste século exacerbou problemas preexistentes que, sem mais delongas, terão de ser enfrentados com coragem, espírito público e união entre governos e sociedades, ou o mundo civilizado entrará em colapso. Já não é possível, por exemplo, continuar ignorando o abissal fosso econômico que separa os cidadãos em vários países, o Brasil incluído. Já não se pode mais conceber um mundo sem cooperação internacional. Já não se pode ignorar o papel central que a saúde e a educação desempenham na construção de uma nação justa, próspera e fraterna. São questões das quais os que estão no poder e os que pretendem exercê-lo no futuro próximo não podem se desviar. Caberá aos cidadãos saberem identificar aqueles que, por baixo do verniz eleitoreiro, estão à altura do enorme desafio da reconstrução.

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