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Por Coluna
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O cavalo de Esopo

Acreditaram que os filtros democráticos e os sistemas de pesos e contrapesos das instituições imporiam freios à ação de demagogos.

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 20h13 - Publicado em 24 out 2018, 14h00

Em seu indispensável “Como morrem as democracias”, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt recorrem à fabula do cavalo e o caçador do escritor grego Esopo. Com ela explicam o que aconteceu com quem aplainou o terreno para a assunção de tiranos como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Hugo Chávez e outros.

Em guerra contra o javali, o cavalo pede auxílio ao caçador que se dispõe a ajudá-lo desde que aceite a rédea e a sela em suas costas. Vencida a disputa, o cavalo pede que o homem o libere daquelas amarras. A resposta: “agora eu o tenho sob minhas rédeas e espora e vou mantê-lo assim”.

Segundo os autores, foi isso o que aconteceu em sociedades que, para se livrar de problemas reais, facilitaram a assunção dos que viriam a ser seus algozes. Acreditaram que os filtros democráticos e os sistemas de pesos e contrapesos das instituições imporiam freios à ação de demagogos autoritários. Acreditaram também que ameaças não precisariam ser levadas a sério por se tratar de pura retórica.

O Brasil parece acometido pela síndrome do Cavalo de Esopo. Para se livrar da violência que mata 60 mil pessoas ao ano, da corrupção, do desemprego e da crise institucional gerados pelos governos Lula e Dilma Rousseff, parte majoritária da sociedade está disposta a se submeter à Jair Bolsonaro. Faz ouvido de mercador às sucessivas ameaças do candidato e de seus seguidores, achando possível domesticá-lo.

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No último domingo, manifestantes diziam que, se no futuro o “mito” frustrar expectativas, vão tirá-lo do poder, como fizeram com Dilma. Convenhamos, impeachment não acontece como quem troca de camisa.

As esporas podem causar muita dor se o discurso de Bolsonaro do último domingo for levado a sério. A manifestação do candidato, além de grosseira, é uma peça absolutamente incompatível com o ordenamento democrático. Seu “prendo e exilo” explicita claramente a ideia de extirpar seus adversários, de vê-los como inimigos da pátria, algo bem próprio do “Brasil, ame-o ou deixe-o” dos anos de chumbo. No passado Lula queria extirpar o DEM, agora Bolsonaro quer extirpar o PT. Com igual ênfase, Fernando Haddad diz que o ex-capitão “é tudo que precisa ser varrido da face da terra”.

Como se não bastasse, antes mesmo de se erigir ao poder, o Bolsonarismo cria um potencial conflito entre os poderes, com as agressões de seu filho à Suprema Corte do país. Com manifestações que “beiram o fascismo e ultrapassam as barreiras do aceitável”, como enfatizou o ex-presidente Fernando Henrique, Bolsonaro e os seus demonstram não só desrespeito, mas pouco caso com as instituições.

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O Bolsonarismo é hoje uma corrente importante da sociedade. É fundamental que venha para dentro da institucionalidade, assim como o PT veio no início dos anos 80, podendo se beneficiar da alternância do poder, se essa for a decisão dos eleitores. Mas tudo isto em absoluta consonância com os valores democráticos, a independência entre os poderes e o direito ao dissenso.

Está em jogo algo muito maior do que o voto neste ou naquele candidato. Isto será decidido pelo pronunciamento soberano das urnas. Mas, independentemente do resultado, é essencial que os filtros e os guardiões da democracia operem com todo vigor para que os brasileiros não fiquem sob as rédeas de tiranos de qualquer natureza.

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo 

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