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Por Coluna
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O candidato e o presidente (por André Gustavo Stumpf)

Bolsonaro mexeu com muita gente

Por André Gustavo Stumpf
12 abr 2021, 12h00

Uma comissão parlamentar de inquérito não significa necessariamente uma crise. Ela pode evoluir para dimensões catastróficas ou morrer no início. Há diversos exemplos nas duas direções. Algumas não saíram do papel. Outras tiveram efeito explosivo.

Mas existe um ritual a ser cumprido. O presidente do Senado verifica que o pedido está de acordo com o regimento interno e solicita aos partidos que indiquem os integrantes. Se os partidos não indicarem, a comissão existe, mas não funciona. Ou pode existir e fazer poucas reuniões.

A questão é a maneira como as forças políticas vão agir dentro do Senado. Se prevalecer o sentimento contra o governo, o presidente Bolsonaro estará em maus lençóis. Existe distância entre intenção e gesto. O ministro Luís Roberto Barroso, depois de consultar seus colegas, agiu de acordo com a lei.

Os senadores deverão fazer a sua parte. Mas o exercício da política é diverso da execução da letra fria da lei. O dispositivo político do Palácio do Planalto já está sob pressão máxima. Na realidade, o governo está fatiado por crises. Foi o que o presidente Bolsonaro alcançou com seu negacionismo, mau humor e palavreado chulo.

Há uma diferença abissal entre o candidato Bolsonaro e o presidente Bolsonaro. O primeiro se colocou para o eleitorado como personagem que defenderia o livre mercado, atuaria fortemente no sentido de abrir a economia, privatizar empresas públicas e reduzir o tamanho do estado.

Também promover medidas para diminuir o desemprego que, naquela época, já era muito elevado. Além disto, prometeu combater a corrupção e colocou o juiz Sérgio Moro no Ministério da Justiça para impedir a ocorrência de ilícitos na administração.

O outro superministro, Paulo Guedes, apresentou fórmulas para solucionar os graves problemas nacionais. Ele prometeu liquidar a dívida pública no primeiro ano de governo. Vender tudo o que fosse possível e fazer o Brasil retomar o desenvolvimento, em grandes números, pela força de seu empresariado.

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O carioca, criado em Belo Horizonte, aluno do Colégio Militar, é bom de conversa em português e inglês. Cita de cabeça autores fundamentais na literatura econômica, impressiona muito, mas, infelizmente, entregou pouco do prometido. Suas promessas caíram no vazio.

As pessoas por ele convidadas abandonaram o governo. Ficou sozinho. Hoje prega no deserto. Brigou com o Congresso. A aprovação do orçamento é uma fotografia do desacerto. O documento foi aprovado com as benções do governo, só depois se verificou que a peça era inexequível. No entanto, assessores parlamentares de todas as áreas do Executivo acompanharam as negociações.

Nada aconteceu por obra do acaso, ou imposição de um grupo. O IBGE, por exemplo, pretendia ter mais de dois bilhões de reais para realizar o censo nacional. Recebeu pouco mais de R$ 70 milhões. A presidente do órgão pediu demissão.

Não há mais conexões entre o candidato e o presidente. Paulo Guedes merece piedade. Não conseguiu privatizar nada e ainda teve que engolir a criação de uma estatal, a NAV, para controlar o espaço aéreo.

Os pilares do governo foram abandonados. Restou o ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, que está executando tudo que planejou quando integrou as administrações Dilma e Temer. Ele tem uma bela obra para exibir. Contudo, não é prudente se expor muito no governo Bolsonaro.

O conjunto de leilões de ferrovias, rodovias, aeroportos e portos que estão sendo leiloados neste mês constituem a melhor faceta deste governo. É a única janela por onde se pode enxergar algo de positivo na ação governamental. Todo resto é destruição: na educação, na defesa do meio ambiente, na inflação, na produção industrial, além do monumental desastre na proteção da sociedade contra a covid. O negacionismo alimentou o vírus.

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O sistema de comunicação do governo é péssimo. As novas ferrovias são essenciais para o escoamento da fenomenal safra de grãos produzidos no centro oeste. Mas quase ninguém sabe disso. O governo esconde seu melhor atrás do biombo ideológico.

Protestar contra ministro do Supremo Tribunal Federal não resulta em nada de positivo, além de irritar os outros ministros. Mais produtivo é determinar a seus advogados que entrem com as medidas judiciais cabíveis.

Bolsonaro mexeu com muita gente na esfera do poder. Ameaçou demais, provocou demais, xingou demais. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, guarda em sua gaveta, 107 pedidos de impeachment. É aí que mora o perigo.

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense. ⠀

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