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Por Coluna
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O ano da estratégia

Uma eleição mais competitiva, poluída e dramática para o futuro dos partidos políticos

Por Leonardo Barreto
Atualizado em 30 jul 2020, 19h12 - Publicado em 17 jan 2020, 08h00

Por Leonardo Barreto

O principal evento político do ano é a eleição municipal. Embora a escolha de prefeitos e vereadores seja um evento local, é natural buscar significado nacional nos seus resultados. Por exemplo, em 2016, o PT conquistou a administração de apenas 254 cidades, uma redução de 74% em relação ao resultado obtido em 2012. Foi o prenúncio do sentimento antipetista que alavancou a candidatura de Jair Bolsonaro, eleito presidente dois anos depois.

Faz parte da tradição entre políticos e analistas, portanto, tratar os resultados como referendos informais da administração federal. As narrativas são construídas e, no dia seguinte à proclamação dos resultados, a imprensa sempre tenta identificar quem ganhou e quem perdeu. No entanto, embora possa haver alguma ligação, a realidade local normalmente é o fator preponderante. As vitórias e as derrotas nunca são absolutas. Cada um perde e ganha um pouco.

Bolsonaro prioriza o nacional

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Em 2020, há duas inovações políticas muito importantes a serem consideradas para o balanço de poder. A primeira é a decisão do presidente Jair Bolsonaro não participar das eleições municipais. Isso foi o que aconteceu quando ele saiu do PSL sem tempo hábil para que o Aliança pelo Brasil, sua nova legenda, tenha condições formais de participar do pleito.

É curioso lembrar que presidentes populares normalmente vivem situações delicadas na hora de distribuir apoio entre candidatos da sua legenda e de partidos aliados nas eleições municipais. Lula e Dilma Rousseff tiveram que buscar estratégias para que sua atuação não afetasse a saúde da coalizão de apoio dentro do Congresso Nacional.

No caso de Bolsonaro, esse problema não deve ocorrer. O presidente não terá partido apto a concorrer e nem tem base de apoio no parlamento. Dessa forma, ele sinaliza dois aspectos importantes da sua persona política: (i) seu negócio é a eleição nacional e (ii) não pretende empenhar seu nome para que aliados locais disputem prefeituras, mantendo posição mais isolada.

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Significados da ausência

Em última instância, o posicionamento do presidente coloca em dúvida o seu próprio projeto de continuidade. Afinal, sem investir em lideranças locais, ele estaria mostrando não ter interesse em aumentar a capilaridade ao bolsonarismo, em melhorar as condições para eleger uma bancada de deputados federais em 2022 a criar um movimento político mais orgânico e com pretensões de perpetuação?

É o que parece. Mas outra leitura é permitida. Um observador experiente de Brasília, que já participou da formação de várias legendas, afirmou que Bolsonaro fez bem em não tentar organizar o partido a tempo de disputar as eleições municipais.

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Segundo ele, sem estrutura e sem recursos financeiros, o novo partido do presidente, caso fosse criado, teria poucas condições de eleger um bom número de prefeitos e vereadores. Mais prudente, portanto, é não concorrer e arregimentar novos quadros entre os eleitos logo após o pleito.

Fim das coligações

A segunda inovação é o fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais. Essa alteração foi aprovada na reforma política feita em 2017 e deve ter efeito devastador sobre legendas menores, pavimentando o caminho para um grande enxugamento do número de partidos políticos efetivos no médio e longo prazo.

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Com a alteração, o quociente eleitoral, número mínimos de votos que um partido deve ter para ter direto a ocupar uma cadeira na câmara de vereadores, nas assembleias estaduais e na Câmara dos Deputados, ficará muito mais difícil de ser atingido. Sem as coligações, as agremiações deixarão de investir apenas em campeões de votos e terão que apresentar chapas completas para ter mais chances de eleger representantes.

Isso muda significativamente o universo estratégico das eleições. Além de mais candidatos a vereador – que os partidos terão que financiar – deverá haver também o aumento do número de postulantes a prefeito. A ideia é que uma chapa proporcional é mais forte quando ela está ancorada em uma candidatura majoritária.

Correlação entre prefeitos e deputados federais

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Considerando que, em tempos normais, há uma forte correlação entre eleições para prefeito e, dois anos mais tarde, eleições para deputados federais (os governantes locais dão suporte e fazem campanha para os legisladores nacionais), os partidos percebem essas eleições municipais como a mais importante dos últimos tempos, pois precisam conquistar o maior número de cidades agora para terem mais condições de superar a cláusula de barreiras em 2022. 

Tudo isso somado, gera uma eleição mais competitiva, poluída e dramática para o futuro dos partidos políticos. Quem passar bem por ela, tem mais condições de seguir mantendo sua identidade frente à filtragem que a cláusula de barreiras imporá em 2022. Quem for mal, possivelmente terá que pensar em se fundir a outras agremiações ou aderir a uma possível fundação de novo partido.

 

Leonardo Barreto é Doutor em Ciências Política pela Universidde de Brasília com especialização em comportamento eleitoral e instituições governamentais.

https://capitalpolitico.com/

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