Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Não foram tragédias

No Brasil, a tragédia é uma imperdoável crônica de mortes anunciadas

Por Gustavo Krause
Atualizado em 17 fev 2019, 16h21 - Publicado em 17 fev 2019, 12h00

A boate Kiss, o Museu Nacional, Mariana, Brumadinho, Niemeyer e os garotos da base do Flamengo não foram tragédias.

As tragédias, ensina a tradição grega, tinham um desfecho funesto ainda que os oráculos alertassem para o final doloroso e inevitável. Na peça Édipo Rei (Sófocles, 427 a.C) não faltaram sinais proféticos do oráculo de Delfos e do cego Tirésias.

No Brasil, a tragédia é uma imperdoável crônica de mortes anunciadas, previsíveis e evitáveis. A narrativa não varia: é soma da irresponsabilidade geral, empreitadas suspeitas, descaso com os riscos, negligência na manutenção de equipamentos, tudo concorrendo para um final terrível.

Seguem-se luto profundo, dor coletiva e, com o passar do tempo, as lições são arquivadas no vasto território de esquecimento sob o manto da impunidade.

Impossível destacar o mais cruel e doloroso dos eventos.

Continua após a publicidade

Dentro de mim, no entanto, ardem as labaredas do futuro incendiado dos jovens integrantes das equipes de base do Flamengo.

Explico: fui moleque peladeiro dos subúrbios recifenses; crescemos juntos eu, medíocre, ainda dei chutes tortos no juvenil do Sport; o futebol, desde então, passou a ser uma paixão lúdica, clubística e intelectual; família competitiva e amorosa; escola de vida que ensinou solidariedade aos companheiros e respeito aos adversários; aprendi o significado da meritocracia: os melhores brilharam em equipes profissionais.

Isto me levou, como desportista, a defender ardorosamente o que o Brasil, de um modo geral, negligenciou: investir na juventude, o mais precioso tesouro de uma nação.

Cansei. Fracassei com o meu discurso obsessivo de propor investimentos na formação dos atletas. Em vão. As talentosas gerações espontâneas fizeram do Brasil pentacampeão até que fomos humilhados, em casa, pelo placar cabalístico: 7×1. O imediatismo triunfou.

Continua após a publicidade

Triste, afastei-me do futebol. Não aguento o protocolo das filas indianas dos times, entrando em campo, a mando da FIFA, multinacional de comportamento duvidoso. Antes, a entrada em campo já incendiava a emoção das torcidas. E os jogos, no Brasil, tornaram-se passes burocráticos na horizontal. O passe vertical e o drible passaram a ser proibidos pelo medo de perder. Um saco. É chutão, bola parada e a improvável emoção do gol.

Jogar futebol para os garotos é um salvo-conduto da marginalidade e um passaporte para cidadania. Agora, é cinza.

Resta-me sonhar com o anjo que encantaria com a magia do drible e guardar a lembrança banhada em lágrimas pelo sentimento insuperável do amor fraterno que resiste às vidas perdidas.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.