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Por Coluna
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Não estão entendendo quase nada

Mano Brown deu o alerta de que a esquerda não falava mais a linguagem do povo.

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 20h08 - Publicado em 28 nov 2018, 11h00

Um mês após a vitória de Jair Bolsonaro, reina a maior perplexidade nas forças políticas vitimadas pelo tsunami eleitoral. Sem explicações convincentes, tateiam no escuro, sem perceber que não estamos apenas diante de uma dessas ondas que vem e voltam, mas de um novo ciclo cuja duração é imprevisível. O recado das urnas ainda não foi assimilado e surgem versões das mais esdrúxulas.

Desconectado da realidade, Fernando Haddad culpa “a elite econômica que abriu mão do seu verniz ao eleger Bolsonaro”. Não consegue enxergar o fato de o novo presidente ter sido o candidato antissistema do qual o Partido dos Trabalhadores e Haddad fazem parte.

Já no PSDB e em outros partidos derrotados viceja a tese de que o fator determinante foi a facada em Bolsonaro. Em comum nessas interpretações está a recusa de uma profunda autocrítica por parte dos atores que ditaram a política desde o advento da Nova República.

O diagnóstico parte de uma premissa errada ao reduzir a eleição de Bolsonaro a uma onda conservadora. É algo muito mais profundo. Houve uma intensa alteração na base da sociedade sem que as forças tradicionais da política tenham se apercebido.

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo na periferia paulistana já apontava isso. Mano Brown deu o alerta de que a esquerda não falava mais a linguagem do povo. Mas grande parte dela continuou raciocinando de forma binária: nós contra eles, capital contra o trabalho, esquerda versus direita, conservadores versus progressistas.

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A leitura com olhar ultrapassado impediu as siglas tradicionais de entender o impacto da falência do Estado em ofertar serviços básicos à população.  Enquanto lhes faltava tudo, os brasileiros assistiam, hiperconectados às redes sociais, recursos públicos sendo drenados pela corrupção. Ao mesmo tempo o desemprego e a ação deletéria do crime organizado provocavam a erosão do núcleo familiar.

Para essas demandas os partidos e seus candidatos não tinham respostas.

Agremiações partidárias, aparatos tão importantes da democracia, viraram no Brasil instrumentos do patrimonialismo, servindo-se da política, em vez de servir à população. Enquanto Bolsonaro adotou uma agenda que falava com o conjunto da sociedade, a velha política falava para os seus: as corporações e os movimentos sociais e identitários, cuja pauta exacerbada e sectária os levou para inúmeros guetos.

Sem a ação do Estado e com a falência dos partidos políticos, os brasileiros viram nas igrejas neopentecostais a resposta para a recuperação da autoestima e da coesão familiar. Hoje são elas a principal força política organizada e com capilaridade em toda sociedade, a ponto de a bancada evangélica se candidatar a substituir o MDB como elemento da governabilidade.

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Os eleitores foram claros no seu recado ao mundo da política, como dizia a canção: “você não está entendendo quase nada do que eu digo. Eu quero é tocar fogo nesse apartamento”.

Reconhecer a realidade é condição para se reinventar. Isso passa pela elaboração de um novo discurso sintonizado com as demandas das urnas, mas também por uma nova postura em relação a tabus. Como o enfrentamento do pensamento único na academia ou nas visões estereotipadas de causas identitárias, a exemplo do que ocorre hoje em segmentos dos movimentos negro, feminista ou gay.

Por aí haverá sinal de vida inteligente na oposição a Bolsonaro.

 

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo

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