Nação imatura
Ter sido contra tudo, todos, ou alguns valerá pouco. Terá sido melhor ter votado a favor de algo.
Confesso que já tive mais certezas. Mas já faz tanto tempo que parece que só me lembro por ouvir contar. Juventude tinha dessas vantagens. A vida parece ser sucessão de problemas facilmente definidos com soluções obvias.
Tão obvias que somente a falta de vontade motivada por profundo desprezo a condição humana poderiam explicar o fato de os problemas ainda vagassem sem solução à vista. Portanto, basta ser contra tudo. Sem muita preocupação em ser a favor de qualquer coisa.
Mas o tempo passa. A gente amadurece. E aprende que maturidade não é fábrica de certezas. Aprende que, com raras exceções, tudo sempre parece se passar em grande zona cinzenta. Amadurecer é aprender a jogar luz sobre a zona cinzenta e separar (desculpe o lugar comum) o joio do trigo, enquanto se calcula a relação custo-benefício de cada opção. Esta, aliás, é outra lição. Tudo tem um preço.
Maturidade traz algum ceticismo e uma mistura de responsabilidade com angustia. Ensina que ser contra tudo resolve o nada. Que não existem dualidades absolutas. Ou mocinhos e bandidos.
Sociedades maduras convivem com duvidas eternas. Escolhem entre opções imperfeitas sabendo que, dada a impossibilidade de perfeição, o único caminho possível é controlar os atos dos imperfeitos escolhidos. Coragem, enfim, não é ser contra tudo. É ser a favor de algo. E reconhecer, criticar e controlar seus efeitos ou consequências negativas. Maturidade não é para os fracos de coração. Nem para estômagos autoproclamados excessivamente sensíveis.
Talvez por isso estas eleições sejam tão confusas. E decidir está difícil. Viramos uma nação que vota contra algo. E a favor de nada. Nestes tempos estranhos, parece haver consenso de que, para ser feliz, basta o outro lado não ganhar.
Entre facadas, cadeia e, presidiários, a gente parece que perdeu a noção de que, em janeiro, os eleitos vão ter um país para governar. Com problemas concretos. E muitos desafios a serem enfrentados, em um mar de incertezas alimentados por uma nação incapaz de discutir e resolver suas próprias mazelas. Mas sempre disposta a mistificação e inclinada a deliciosamente abraçar o populismo.
Em janeiro, ter sido contra tudo, todos, ou alguns valerá pouco. Terá sido melhor ter votado a favor de algo. E a gente talvez descubra que deveríamos ter utilizado o período eleitoral para achar soluções. E identificar quem representa a solução menos imperfeita para resolve-los.
Maturidade, enfim, é escolher entre opções imperfeitas consciente da necessidade e obrigação de controlar suas falhas. Não estamos preparados para isso. Somos nação imatura.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .