Mercado torce pela condenação de Lula
Se isso ocorrer, o passo seguinte será torcer pela desidratação da candidatura do deputado Jair Bolsonaro, o outro ponto do extremo
No início de 2014, a senadora Martha Suplicy, ainda no PT, convidou uma parcela expressiva do PIB brasileiro para jantar com o ex-presidente Lula em São Paulo. Autorizada por ele, Martha estava empenhada em criar as condições necessárias para que Lula fosse candidato naquele ano à sucessão da presidente Dilma Rousseff.
Banqueiros, empresários, analistas de mercado saíram do jantar encantados. Encontraram um Lula ameno, bem humorado, conciliador. Ouviram dele o que gostariam de ouvir de todos os candidatos confiáveis. Pois essa mesma gente, hoje, torce em silêncio pela condenação de Lula no próximo dia 24. O que houve?
Houve que Lula não foi candidato – Dilma não deixou. E houve que, acossado pela Lava Jato, Lula decidiu se reinventar. Do presidente que se gabava de ter incluído os pobres sem prejudicar os lucros dos mais ricos, transformou-se no inimigo declarado e assustador das elites que foram suas parceiras preferenciais durante oito anos.
Nada de surpreendente para quem já admitiu com prazer que é uma metamorfose ambulante. Ocorre que o sucedâneo do Lulinha paz e amor, a jararaca capaz de picar com ferocidade seus velhos aliados, foi longe demais para não perder a companhia das forças de esquerda. E se eleito em outubro próximo, dificilmente daria o dito pelo não dito, voltando ao colo aconchegante e generoso do centro.
Uma eventual segunda condenação de Lula, se possível por unanimidade, é o que o mercado mais deseja, e não esconde. Se isso ocorrer, o passo seguinte será torcer pela desidratação da candidatura do deputado Jair Bolsonaro, o outro ponto do extremo. E o passo seguinte, ajudar a eleger um candidato realmente comprometido com as reformas do Estado.
O plano é esse. Naturalmente, será preciso combinar com a massa descrente dos eleitores. Dar-se-á um jeito.