Resumo da ópera que seria cômica se não tivesse desatado uma crise política capaz de refletir no destino do mal iniciado – e iniciado mal – governo do capitão, dos seus generais, e dos demais figurões tão burlescos quanto: Jair Bolsonaro mentiu ao negar que falou por telefone na semana passada com o então ministro da Secretaria-Geral da presidência da República, Gustavo Bebianno.
Por toda parte, líderes políticos mentem e tudo fica por isso mesmo. Mas em alguns países, se flagrados mentindo, eles perdem o emprego. Nos Estados Unidos foi assim com o presidente Richard Nixon nos últimos anos 70. Ele renunciou ao mandato por ter mentido no caso do escândalo Watergate. Donald Trump mente diariamente, balança, mas não cai. Tempos estranhos!
Os áudios trocados por Bolsonaro e Bebianno, e revelados pela VEJA, mostram, de um lado, um presidente assustado com a possibilidade de ter seu nome envolvido com o escândalo de candidaturas do PSL usadas para desvio de dinheiro público, e do outro um ministro que fazia sua estreia nos subterrâneos escuros e escorregadios dos jogos do poder. Ali, se mata ou se morre.
Presidente e ministro vítimas da própria armadilha que montaram para si – o uso insano das redes sociais para a troca de informações que deveriam ser sigilosas e para governar por meio de comunicados sem a obrigação de justificar seus atos. A intimidade do exercício do mando costuma ser muito feia e desabonadora. É o que fica demonstrado mais uma vez.
Por fraqueza ou malandragem, Bolsonaro alugou sua voz ao filho Carlos, inimigo de Bebianno, interessado em removê-lo das vizinhanças do pai. Por amadorismo, Bebianno imaginou que a simples exposição lógica de fatos e argumentos seria capaz de convencer seu chefe de que a razão estava do seu lado. Escapou-lhe que a razão não estava em causa, mas o poder e o laço de sangue.