Brumadinho é a principal atenção, mas por instantes afasto os olhos da área atingida pela avalanche de lama a escorrer da barragem, da Vale, que se rompeu sem um sinal sequer da sirene de alarme, causando perdas humanas e ambientais sem tamanho e sem fim (mais de 100 mortos e mais de 250 pessoas ainda desaparecidas. E continua sua marcha implacável de destruição, a caminho das águas do São Francisco, o rio que passa por minha aldeia baiana. Diante de mim, entre voos incessantes das operações de resgate, vejo helicóptero da Polícia Federal, com ocupantes, imagino, em investigações para identificar e punir culpados.
“Tomara”, penso, quando a imagem da TV vai para o Hospital Albert Einstein, onde o porta-voz da Presidência da República, general Otávio do Rego Barros, informa que a cirurgia do presidente Jair Bolsonaro – para retirada da bolsa de colostomia e recomposição do trânsito intestinal – foi um sucesso. Sem transfusão de sangue”, acrescenta o militar em sua comunicação. Próxima de mim, uma enfermeira competente, de reconhecidos serviços prestados em sua profissão, comenta: “Graças a Deus, sem transfusão o paciente fica menos vulnerável a infecções no pós operatório”. Acredito, mas só me convenço ao ver o capitão presidente, na quinta-feira, 31, reassumindo suas funções, ainda internado em São Paulo.
O vice, general Hamilton Mourão, poderá dar descanso à língua afiada, maneirar seus encontros fora da agenda oficial do Palácio do Planalto, e sossegar em seu canto, no Jaburu. Afinal, pegou mal, a reveladora reportagem do Diário de Notícias, acreditado e influente jornal português . O texto, publicado na quinta-feira, é de João Almeida Moreira. Com o título direto, “Bolsonaro desconfia de seu vice-presidente”, o autor anota: “Hamilton Mourão, que ainda ontem defendeu que Lula fosse ao enterro do irmão, tem agenda própria, muitas vezes na contramão do presidente”. Tem mais , muito mais… Recomendo a leitura completa no DN.
Retorno , mais atento, às notícias que correm entre Minas, São Paulo, Brasília e Bahia. No jornal Estado de S. Paulo, por exemplo, vejo detalhes relevantes da entrevista da advogada e professora Janaína Paschoal, pelos quais passara batido antes, em face do horror do desastre de Brumadinho, e das “mentiras da Vale”, na dura expressão da juíza de Minas, ao autorizar a prisão de engenheiros, para apuração de responsabilidades criminais de uma das maiores tragédias, em perdas humanas e ambientais, de que se tem notícia.
Janaína, eleita deputada estadual mais votada do país, (mais de 2 milhões de votos) pelo PSL-SP, é firme e sincera mais uma vez.Deseja “rápido restabelecimento, um bom governo, muita lealdade, por parte dos membros da sua equipe, e vida longa ao presidente internado” . Sobre os motivos de sua preocupação com a lealdade, revela: “Muita vaidade, muita disputa de poder. Eu vivi um pouco aquilo (durante a montagem do governo). É assustador”. Se ele não tiver esse grupo leal, não a ele, mas aos princípios que fizeram toda essa mudança, leal ao trabalho de equipe, nós estamos perdidos. Isso me preocupa muito. Muito”, alerta . Mais não digo, só recomendo, também, a leitura completa do que diz Janaína no Estadão.
Volto a atenção para a lama de rejeitos da barragem da Vale, a caminho do meu Rio São Francisco. Já exangue, ferido de morte antes, e agora diante desta ameaça pavorosa..
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br