Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Me dá um dinheiro aí (por João Bosco Rabello)

Presidentes se deixam seduzir pelo atalho das realizações relâmpagos

Por João Bosco Rabello
Atualizado em 18 nov 2020, 20h02 - Publicado em 14 ago 2020, 11h00

A equipe econômica do ministro Paulo Guedes se desfaz dia a dia em um enredo que opõe desenvolvimentistas e fiscalistas. Os primeiros, defensores de programas que exigem investimentos além da capacidade do governo. Os últimos, de uma política de ajuste fiscal conjugada com reformas do Estado.

Entre ambos uma força tem se mostrado na história recente mais poderosa que o sonho de reformar o Estado: a reeleição presidencial. Tentados por ela, presidentes se deixam seduzir pelo atalho das realizações relâmpagos, do assistencialismo, reproduzindo programas rebatizados e repaginados, como o PAC, o bolsa família (agora Renda Brasil) e similares. E a sempre presente CPMF.

Uma semana antes da última leva de exonerações na área econômica, o senador Flávio Bolsonaro, em entrevista ao jornal O Globo, disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria que “arranjar mais um dinheirinho” para tocar obras de infraestrutura. Uma adaptação, à vera, da célebre marchinha do carnaval dos anos 50, “Ei, você aí / Me dá um dinheiro aí / me dá um dinheiro aí / Não vai dar?/ Não vai dar não? / Você vai ver, a grande confusão”.

A senha

O presidente Jair Bolsonaro nunca foi um liberal. Também não foi o primeiro presidente a usar o receituário do mercado para se eleger com juras de pôr a casa em ordem. E nem a abandoná-lo para abrir passagem à reeleição. A diferença agora é uma pandemia no meio, com a marca de 100 mil mortos, que já abalou o caixa na proporção da economia projetada pela reforma da Previdência.

Não obstante, quer mais porque precisa estender o assistencialismo justificado pelo coronavírus. Flávio, o filho, é o porta-voz do que efetivamente pensa o presidente. Sua entrevista foi uma senha e a equipe econômica entendeu o recado. Guedes está, pois, isolado, e tratou de mandar recado para dentro e para fora.

Seu discurso não difere dos que saem vencidos pela oposição ao receituário liberal. Para dentro, se dirigiu aos conselheiros alinhados aos militares e a Rogério Marinho por mais gastos, advertindo e responsabilizando-os para o risco de enveredarem pelo caminho do impeachment. Para fora, procura blindar-se junto ao mercado e investidores. Recado duro de quem já não se sente preso à cadeira. Lavou as mãos.

Continua após a publicidade

Mais do mesmo

Nada nesse roteiro é novo, exceção para o vírus. No governo FHC, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, conviveu com oposição interna ao programa que combinou uma nova moeda com privatizações destinadas a reduzir o tamanho do Estado. José Serra foi ministro da Saúde desejando ser da economia e atazanou a Fazenda.

No ciclo do PT, Antônio Palocci foi alvo do chamado “fogo amigo” diariamente, até ser defenestrado pelo escândalo com o caseiro Francenildo Pereira, cujo sigilo bancário quebrou para criar a falsa versão de que suas denúncias eram remuneradas. Palocci estava alinhado com a política liberal representada por Henrique Meirelles à frente do Banco Central.

Meirelles ainda conviveu com Guido Mantega, substituto de Palocci, depois de suportar até 2010 o mesmo “fogo amigo” do vice-presidente da República, José de Alencar, do então senador Aloisio Mercadante, de Mantega e de Dilma Rousseff. Desarmou-se ali o resquício de política liberal herdada do Plano Real, cujos fundamentos foram efetivamente abandonados na gestão de Dilma.

Guedes isolado

Em comum entre esses governos e o de agora há mais que as divergências de fundo: como não há espaço para a convivência antagônica, alguém ganha e alguém perde essa guerra. E alguém sai. A deserção dos economistas da linha de frente do ministro Paulo Guedes e amotivação eleitoral do presidente sinalizam para a vitória da corrente que une militares e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

Continua após a publicidade

Guedes e Marinho tiveram seu primeiro embate na célebre reunião de 22 de abril, quando o ministro da Economia investiu agressivamente contra o Pro-Brasil – o programa desenvolvimentista dos militares. Pouco antes acusara Marinho de ter sido desleal por não lhe dar ciência do programa que já tratava com o ministro da Casa Civil, Braga Neto.

Bem nas pesquisas ainda, Bolsonaro faz uma aposta de risco no Pró-Brasil. A sucessão está longe e a economia ainda vai apresentar a conta da pandemia e do improviso e desorientação que têm caracterizado as ações emergenciais combinadas com uma agenda populista. Além das investigações que avançam sobre os filhos. De concreto, a debandada da turma da economia encerra o ciclo de um governo que se apresentou liberal sem nunca ter sido.

 

 

João Bosco Rabello. Jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública. Escreve no Capital Político. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.