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Por Coluna
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Mais cooperação e diplomacia, menos beligerância

A virada só se dará se o governo Bolsonaro mudar de mentalidade

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 19h28 - Publicado em 28 ago 2019, 11h00

O resultado da reunião do G7 – grupo dos sete países mais desenvolvidos – abriu espaço para o Brasil virar o jogo a seu favor. Em vez de represálias, o grupo ofereceu ajuda ao Brasil e aos países da região, com vistas a colaborar na preservação da maior floresta tropical do mundo. A virada, no entanto, só se dará se o governo Bolsonaro mudar de mentalidade e de atitude na questão ambiental, em especial em relação à Amazônia.

Para começar, entendendo como natural e salutar, a preocupação da opinião pública mundial e de diversos países com o destino da floresta amazônica. Isso não tem nada de ingerência externa ou ameaça à soberania nacional. A Amazônia é nossa e dos países da região, mas é também um patrimônio a ser preservado, em um mundo onde a sustentabilidade é um valor universal, assim como os direitos humanos e a democracia.

A crise chegou ao nivel que chegou não apenas pelo aumento recente do desmatamento e dos incêndios. Seu combustível também foi o conjunto de erros da política do governo, ditada por um nacionalismo que já era anacrônico nas últimas décadas do século passado e que em um mundo globalizado é um desserviço ao país por impedir sua integração competitiva e sustentável na economia mundial.

No caso da Amazônia, esse nacionalismo primitivo tem como eixo o desenvolvimento da região por meio de um “capitalismo selvagem”. Assim, a extração ilegal da madeira, o garimpo e a queimada para formar pastos seriam ponto de partida para o progresso. Da mesma forma como o foram a pirataria, a escravidão, o extermínio de índios, o colonialismo, para a chamada acumulação primitiva do capital nos séculos XVI e XVII.

Pensar a “acumulação amazônica” do século XXI com base na destruição do principal ativo econômico da região – sua biodiversidade – é mais do que uma insensatez. É um crime de lesa-pátria e contra a humanidade. Nos dias de hoje a expansão da fronteira econômica do país não pode se dar aos moldes dos tempos dos bandeirantes.

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Nesse nacionalismo primitivo, a divulgação de dados científicos sobre o avanço do desmatamentos e de incêndios são considerados como segredo de Estado. Querê-los clandestinos é risível porque os satélites possibilitam à comunidade internacional o acesso imediato aos dados sobre a Amazônia, como evidenciou a crise atual.

Não é só anacrônico, é também paranoico. O fantasma do “inimigo externo” ronda a cabeça do presidente. Faz da Amazônia um divisor de água entre “bons e maus brasileiros”. Maus brasileiros seriam todos que alertam sobre o avanço da destruição da floresta. É como se fossem agentes de potências estrangeiras. Mutatis mutantis, é o mesmo discurso da esquerda nacionalista, com sinal trocado.

Bom, Dom Helder Câmara também foi acusado de mau brasileiro por divulgar no exterior torturas e assassinatos, no período ditatorial. E Joaquim Nabuco também foi qualificado como tal pelos “emperrados” – ala mais reacionária dos conservadores durante o Império – por ter solicitado do Papa Leão XIII uma carta de condenação à escravidão.

Bolsonaro não está sozinho. Os militares pensam como ele. Na Ordem do Dia de 25 de agosto (Dia do Soldado) o comandante do exército, general Edson Pujol, reproduziu o discurso da ameaça externa à Amazônia, afirmando que “os soldados de Caxias estão prontos para repelir qualquer ameaça”.

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Com todo respeito às Forças Armadas, nossa soberania não depende das armas. A última vez que elas foram a saída se deu na Guerra do Paraguai. Desde os tempos de Juca Paranhos a diplomacia pragmática e responsável foi o grande fator a garantir nossa integridade territorial e até mesmo sua expansão. Graças ao Barão de Rio Branco, o Acre é hoje um estado brasileiro e o Amapá ampliou extraordinariamente seu território com terras reivindicadas pela França.

Nossas armas, mais do que nunca, são a cooperação internacional, a transparência e um modelo de desenvolvimento pautado na exploração racional e sustentada da biodiversidade, assim como no turismo ecológico. Interesses escusos existem aqui e lá fora. Mas isso não é o traço principal da preocupação do mundo com a Amazônia.

Esse ativo pode estar a nosso favor. É possível superar a presente crise com uma nova mentalidade, novas atitudes e com gestores competentes à frente da política diplomática e da política ambiental.

 

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo  

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