Merece atenção – além dos muxoxos de descrédito de alguns observadores e gladiadores da atual cena política baiana e nordestina – os murmúrios de desejos de petistas de raiz e de figuras históricas de esquerda, que começam a sugerir, sem pedir segredos, que o senador Jaques Wagner saia de sua zona de conforto, no Congresso (mandato de oito anos, conquistado em 2018), para mergulhar no olho do furacão, que deverá varrer o estado na disputa pelo Palácio de Ondina, na sucessão do governador Rui Costa, em 2022.
Não deu nem tempo de amenizar o calor da refrega eleitoral, pela prefeitura de Salvador, decidida no primeiro turno com a vitória de Bruno Reis, o vice e braço direito de ACM Neto (DEM), com 64% dos votos válidos. Mais que suficientes para o presidente nacional dos Democratas sentir-se com forças suficientes, a ponto de desafiar o ex-governador da Bahia – um reconhecido campeão de urnas em embates de passado recente – para o centro do ringue na sucessão estadual.
Wagner e ACM Neto já se batem com vistas a 2022. Enquanto os olhos de analistas e holofotes da imprensa nacional se voltam para disputas com ingredientes e conteúdos para fazer história nas eleições, deste domingo, 29, a exemplo do confronto Marília (PT) x João Campos (PSB), primos e herdeiros da tradição política de Miguel Arraes, pelo comando de Recife, a lendária capital de Pernambuco. E tem ainda um tira teima inesperado e arrepiante entre Covas (PSDB) x Boulos (PSOL) pela crucial prefeitura da capital paulista, a mais rica e cobiçada do Brasil.
Semana passada, contente e esbanjando autoconfiança, depois de confirmada a balaiada de votos, do candidato eleito do DEM em praticamente todas as urnas e zonas eleitorais, dos chamados bairros nobres ao centro, periferia e subúrbios, ACM Neto foi para a galera. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do Democratas tratou de dar ressonância nacional ao seu feito político e ao estado de espírito. Falou sem meias palavras. Na parte mais polêmica da conversa, o prefeito da capital baiana brandiu farpas, de conteúdo político, contra adversários da chamada “esquerda baiana”, mas deixou escapulir algumas mágoas pessoais, de querelas do tempo em que o avô Antônio Carlos Magalhães imperava na Bahia, enquanto o ex-presidente Lula mandava no Nordeste e no país. Ao Valor, Neto disse que as eleições municipais deste ano – ainda em curso com o segundo turno deste domingo – causaram “uma aceleração no processo de aposentadoria do Lula.”
O senador Jaques Wagner não gostou desta parte da entrevista e, ao ser entrevistado pela Tribuna da Bahia, considerou que o adversário passou da conta, foi “arrogante” e reagiu no mesmo tom do prefeito. Para Wagner, “a decisão do futuro do ex-presidente Lula cabe somente a ele”. E pisou mais forte no acelerador, na reação ao dirigente do DEM: “Só porque ganhou domingo (dia 15 de novembro) já está com arrogância de querer dizer o que vai acontecer. Já demonstra que não sabe conviver com eventuais vitórias, e eu espero que não faça o mesmo que fez há dois anos porque o que ele apoiou está aí matando o Brasil”, atacou o senador petista, sem citar nominalmente o atual ocupante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro. Nem precisava.
Tem mais, muito mais, mas não digo. A não ser que 2022 começou bem mais cedo na Bahia.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br