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Há 50 anos os tanques esmagaram a primavera

A Primavera de Praga foi um sonho de oito meses, esmagado pelas esteiras dos tanques soviéticos

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 15 ago 2018, 14h00 - Publicado em 15 ago 2018, 14h00

O dominicano Giordano Bruno confessou sua ingenuidade de pedir para “quem tem o poder, mudar o poder” às vésperas de ser queimado na fogueira da Santa Inquisição. Alexandre Dubeck, então Primeiro Secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia, escapou da fogueira da inquisição comunista depois de ter sido sequestrado e levado a Moscou para assinar um “acordo” com Leonid Brejnev, que estraçalhou a Primavera de Praga. Ali, Dubeck percebeu sua ingenuidade de querer construir o “socialismo com rosto humano”, como se fosse possível o sistema socialista se auto reformar.

A Primavera de Praga foi um sonho de oito meses, esmagado pelas esteiras dos tanques soviéticos em 20 e 21 de agosto de 1968. Não por acaso, aconteceu na Tchecoslováquia, país de larga tradição democrática. A República Checa foi o único lugar da Europa onde o Partido Comunista chegou ao poder pelo voto, obtendo a maior votação dos comunistas na Europa pós Segunda Guerra Mundial.

Apesar de sucessivos expurgos stalinistas, sempre houve vida no PC tcheco. Diferentemente da Hungria, onde uma insurreição tentou derrubar os comunistas, a Primavera de Praga não contestava o socialismo. Foi um movimento iniciado e dirigido pelas principais lideranças do PC tcheco; sobretudo por Dubeck e Ludwing Svoboda.

Os dois nada tinham de antissoviéticos. Desde os quatro anos, Dubeck morou na União Soviética e só voltou ao país natal aos 17 anos para, em 1938, integrar a resistência aos nazistas. Já Svoboda foi herói pelo Exército Vermelho, por seu papel como comandante de divisões tchecas na Segunda Guerra.

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Os ventos de renovação arejaram Praga. Poderiam ter se espraiado pelos demais países do bloco socialista.

A Cortina de Ferro se sentiu ameaçada pelas reformas de Dubeck e pelo estabelecimento de uma imprensa livre. Odiada pela nomenclatura, granjeou o apoio de toda a sociedade, a exceção de velhos e carcomidos stalinistas. O “Manifesto de duas mil palavras”, assinado por intelectuais do porte de Milan Kundera e Václav Havel e apoiado dos líderes comunistas, pregava o fim do monopólio do PC.

A resposta foi a aplicação da Doutrina Brejnev, a da “Soberania Limitada”. Os países do Pacto de Varsóvia eram “livres”, desde que não pusessem em xeque sua continuidade no bloco, nem o modelo socialista. Desde julho, tropas soviéticas faziam exercício militar dentro da Tchecoslováquia. A invasão era questão de dias. Quando os tanques entraram em Praga o florescer chegou ao fim.

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A Primavera de Praga e o Maio Parisiense foram os dois grandes acontecimentos históricos do ano turbulento de 1968. A seu modo, cada um voltou-se contra velhas estruturas. Os tanques soviéticos não conseguiram esmagar o sonho do “socialismo com rosto humano”. Ele ressurgiria nos partidos eurocomunistas e com Gorbatchov; outra ilusão de se reformar por dentro o sistema.

E Dubeck entrou para a história como um homem que tentou humanizar o socialismo. Fiel aos seus princípios, foi expulso do PC e por 20 anos amargou o ostracismo nos serviços burocráticos de uma exploração florestal. A história lhe fez justiça. Com a vitória da Revolução de Veludo, em 1989, voltou aclamado pelos tchecos em uma praça de Praga. E foi eleito presidente do parlamento tcheco.

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo 

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