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Por Coluna
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Estupidez e Indecência da Pólvora (por Cristovam Buarque)

A história de repete

Por Cristovam Buarque
28 nov 2020, 11h00

Não é a primeira vez que o Brasil ameaça usar pólvora no lugar de saliva. Isto aconteceu em 1845, quando a Inglaterra feriu a soberania brasileira ao impor sua Lei Aberdeen, que proibia o tráfico de escravos em qualquer parte dos oceanos e até nos portos, de qualquer país.

Alegando a sacralidade de nossa soberania, traficantes, fazendeiros e políticos se insurgiram contra a lei inglesa e continuaram importando clandestinamente novos escravos. O número aumentou, até 1850, quando o Brasil aprovou a Lei Euzébio de Queiroz, que proibia a importação de novos escravos.

Apesar do argumento de que esta medida era necessária para evitar o bloqueio inglês aos nossos produtos, foi preciso enfrentar poderosos que defendiam usar armas contra a marinha inglesa, para mantermos o direito a importar escravos. Os abolicionistas, que ainda eram poucos, apoiaram a lei inglesa, e por isto foram tratados como antipatriotas. Para eles, uma causa humanista, como a liberdade dos escravos, importava mais do que o direito de receber navios negreiros em nossos portos.

Quem observa a história percebe que ela se repete, não mais para a proteção de seres humanos, mas para proteger florestas ameaçadas por fazendeiros, comerciantes de madeira, garimpeiros e especuladores fundiários. Em nome de evitar tragédias ecológicas, o mundo começou a exigir que o Brasil cuide melhor de nossas florestas. Da mesma forma que há 170 anos, surgem vozes que em nome da soberania defendem o direito de queimar nossos recursos, como antes de explorar os escravos. Agora se insurgem, com saliva ou pólvora, contra boicotes que nossos parceiros comerciais ameaçam nos impor, se não aceitarmos regras internacionais para o manuseio de recursos naturais.

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Daqui a algum tempo, vamos entender que a expressão “malditos” não se aplica apenas a traficantes de escravos, que certos valores morais, como a proibição de escravidão e defesa do meio ambiente planetário, se sobrepõem à soberania nacional. Talvez precisemos de um Euzébio de Queiroz que salve nossa soberania ao mesmo tempo que protege nossas florestas ao mesmo tempo que mantém nosso comércio.

Os tempos são outros. Graças a um século de diplomacia competente, hoje podemos propor leis internacionais para proteger o meio ambiente, a diversidade biológica e a população pobre do mundo. Proteger todas as florestas, distribuir vacinas gratuitamente e apoiar a educação das crianças em todos os países. A evolução tecnológica vai exigir éticas humanistas mundiais regulando a soberania de cada país. Como fez a Inglaterra no caso nobre contra o tráfico de escravos, agora por orgãos internacionais, dos quais participamos e já tivemos lideranças.

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

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