Coronavírus: Duas questões de vida (por Raul Jungmann)
Desde já, precisamos nos preparar e antecipar o que está por vir e suas consequências
A primeira delas e mais candente, é a decisão ou não de transitar de uma estratégia de distanciamento social horizontal ou massiva, para uma vertical ou seletiva. No centro desta escolha está o tempo.
Tempo para que o isolamento massivo faça o seu trabalho e a pandemia de coronavírus desacelere, versus o tempo em que a economia suporte uma total parada da produção de bens e serviços, com impactos na renda e empregos em extensão e profundidade de difícil reversibilidade e custos.
Não se trata de uma escolha entre vidas e economia, mas entre vidas e vidas. Se um erro de cálculo na antecipação da duração do isolamento horizontal pode acarretar perdas humanas, a desorganização da economia pela sua parada além do tempo por ela suportável, leva a perda de empregos, renda, impostos que sustentam o sistema de saúde e, em decorrência, a perda de vidas, igualmente.
Essa questão que se encontra politizada e levando a uma polarização inconsequente nesse momento de crise, teria que conduzir a uma solução tecnicamente ótima entre as duas pontas do problema. Mas não é isso que acontece. E o Presidente da República tem acirrado essa disputa em detrimento de liderar e coordenar os esforços do governo e da sociedade.
Em nome de todos, sobretudo os mais vulneráveis, é imperativo encontrar uma saída que preserve o máximo de vidas.
A segunda questão, é a o intenso processo de “virtualização” da sociedade, via internet e redes sociais, alavancado pela estratégia do distanciamento social. Impossibilitados de realizar interações presenciais e isolados todos – de escolas a bancos, passando por comércio, serviços, governo etc, submergiram nas redes. Símbolo marcante do que estamos dizendo, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal votam via plenários virtuais, pela primeira vez na nossa história.
Esse “mergulho” inédito no mundo virtual, onde já nos encontrávamos, foi acelerado com consequências para adiante e após o fim da atual crise de impacto a ser dimensionado. Mas, em princípio, teremos reflexos sobre os empregos e regime de trabalho em diversos setores, idem sobre contratos de trabalho, com o crescimento do teletrabalho em diversas áreas, a flexibilização dos horários, a redução das instalações físicas, e o enxugamento da mão de obra, sobretudo na área dos serviços e de consumo de massa.
Desde já, precisamos nos preparar e antecipar o que está por vir e suas consequências.
Raul Jungmann é ex-ministro da Reforma Agrária, da Defesa, da Justiça e Segurança Pública; https://capitalpolitico.com/