Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Combate à corrupção não tem dono

Brasil já deu provas de que pode combater seus corruptos sem precisar de salvadores da pátria

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 20h04 - Publicado em 2 ago 2020, 13h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (2/8/2020)

Mais uma vez, como era previsível, críticas recentes à Lava Jato, como as feitas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, provocaram reações duras de certos círculos, que enxergam nesses reparos uma tentativa de acabar com a operação e, assim, minar o combate à corrupção no Brasil.

Em seus mais de seis anos de atuação, a Operação Lava Jato decerto amealhou muitos inimigos, especialmente ao encontrar provas que levaram à cadeia gente poderosa, acostumada à impunidade. Por essa razão, é provável que haja muitos corruptos que, fustigados pela força-tarefa sediada em Curitiba, estejam contando as horas para o fim da operação.

Mas é certamente exagerado considerar que a eventual extinção da Operação Lava Jato represente um golpe mortal na luta contra a corrupção. Nesses termos, parece que os 15 procuradores da Lava Jato são os únicos capazes de garantir a continuidade do combate aos malfeitos de corruptos em geral – como se não houvesse, dentro do próprio Ministério Público, outras centenas de procuradores interessados no assunto e igualmente competentes.

Há muito tempo a Lava Jato extrapolou seu escopo inicial, tanto em relação ao objeto que a motivou quanto a respeito dos métodos empregados em seu trabalho. Se tivesse terminado quando deveria, depois de alcançar estrondoso sucesso ao colocar na cadeia os responsáveis pelo escândalo do petrolão e recuperar bilhões desviados da Petrobrás, a Lava Jato ganharia merecido lugar na história como símbolo da vontade dos brasileiros de enfrentar com coragem a chaga da corrupção. Tendo passado dos limites razoáveis de duração, alcance e pretensão, a operação corre o risco de ocupar outro lugar na história, este bem mais sombrio: o de responsável pela desmoralização da política, transformando todos os políticos em corruptos em potencial.

Continua após a publicidade

Ao fazê-lo, a Lava Jato apresentou-se na prática como um partido cuja plataforma era promover o saneamento da política em geral. Não estava sozinha nessa missão: juntou-se a magistrados que se viam e ainda se veem como responsáveis por atuar não de acordo com a lei propriamente dita, mas segundo sua visão de país – num ativismo judicial que gera toda sorte de aberrações. Sem ter votos populares que justificassem sua atuação eminentemente política, esses servidores da Justiça no entanto se consideraram eleitos para fazer o que entendiam ser uma missão quase religiosa – messiânica mesmo.

Tal conjugação – chamada genericamente de “lavajatismo” – criou a atmosfera de terra arrasada que ensejou a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência e de centenas de outros políticos que prometiam praticar abertamente a antipolítica. Felizmente, as instituições democráticas, com seus freios e contrapesos, foram eficientes até agora em impedir que esses subprodutos do jacobinismo lavajatista inviabilizassem de vez a democracia. É exatamente o que está acontecendo com a própria Operação Lava Jato, que vinha se considerando uma instituição independente do Estado – fora, portanto, dos controles institucionais – e cuja continuidade a esta altura não encontra respaldo senão na presunção messiânica de que é a única capaz de combater a corrupção.

Não é. O Brasil amadureceu bastante nas últimas duas décadas na prevenção à corrupção, seja dando poder aos organismos de investigação e controle, seja na criação de ampla legislação para coibir desvios. Ainda estamos longe do ideal – o gigantismo do Estado permanece sendo um convite aos oportunistas e o sistema político dá margem a comportamento pouco republicano nas Casas Legislativas País afora -, mas é inegável que houve avanços. Nem todos dependeram da Lava Jato – que ainda não existia, por exemplo, quando os envolvidos no escândalo do mensalão, que estourou em 2005, foram investigados, julgados e punidos.

Ou seja, o Brasil já deu provas mais que suficientes de que é competente para combater seus corruptos sem a necessidade de recorrer a salvadores da pátria – que, nessa condição, reivindicam mandato infinito e se consideram desobrigados de prestar contas de seus atos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.