Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Clareza de objetivos (por André Gustavo Stumpf)

Golpe de estado é assunto para profissionais da política, Bolsonaro é amador

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 9 abr 2021, 10h25 - Publicado em 8 abr 2021, 13h00

Nos anos noventa do século passado, o comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, conhecidas pela sigla FARC, alcançou o momento limite na decisão de seu futuro político. Suas tropas controlavam praticamente todo o território do país, com exceção da capital e das grandes cidades.

Se decidisse marchar contra Bogotá teria chances de derrubar o governo e montar uma nova administração, orientada pelos princípios do socialismo e com abertura para o livre trânsito da cocaína.

Mas formar governo é assunto muito complexo. Seria necessário estabelecer relações diplomáticas com outros países, participar de reuniões internacionais, definir metas de crescimento, controlar inflação, distribuir justiça, entre outros requisitos. Melhor continuar só com a guerrilha. Foi o que aconteceu.

Recentemente, parte dos guerrilheiros decidiu criar um partido político e disputar eleições. A outra metade continuou sua luta no Sul do país, ganhando dinheiro com a exportação de cocaína, atividade que perdeu sua conotação político-partidária. O jogo ficou claro.

O governo do presidente Bolsonaro poderia olhar para o exemplo colombiano. Se o grupo Bolsonaro&filhos não tivesse chegado à presidência da República, estaria hoje operando livremente suas atividades na Assembleia Legislativa do Rio, talvez na Câmara Federal e no Senado Federal sem dificuldade, nem vigilância da imprensa.

A intimidade com a milícia na zona oeste do Rio de Janeiro continuaria discreta e o convívio da família com matadores profissionais não seria percebida. A presença de Jair, o grande chefe, no Palácio do Planalto em Brasília complicou a vida de todo o grupo. O exercício da política os colocou na vitrine.

Continua após a publicidade

A falta de experiência política determina a tragédia diária. O presidente não compreende que ele tem o poder, mas não dispõe de todo o poder. Pode muito, mas não pode tudo. O diagnóstico produzido pelos filhos não é suficiente para explicar a realidade. Colocou gente sua em diversos órgãos do governo federal, a maioria militares.

Eles, contudo, não são políticos, nem comungam com a mesma ideologia exótica do chefe do governo brasileiro. Apenas desfrutam a oportunidade de ganhar um pouco mais no final do mês. Nada além disso.

No período em que os generais estiveram no poder, entre 1964 e 1985, surgiu nos Estados Unidos um grupo de professores chamados de brazilianists, que estudou a história do Brasil e a presença dos militares nos principais eventos. Alfred Stepan e Thomas Skidmore fizeram belos trabalhos para explicar como funcionou o sistema militar, em que o presidente tinha mandato definido e era substituído ao final. Não havia reeleição.

Um dos melhores trabalhos desta época é Soldados da Pátria, história do Exército brasileiro de 1889-1937, Frank McCann, Cia. das Letras. É uma pesquisa de fôlego no qual o autor demonstra a preocupação dos militares em modernizar a força, mas antes ser necessário modernizar o país.

Isso começa pelos tenentes de 1922 e 1924, passa pela Coluna Prestes e caminha pela história até chegar a 1964. O rompimento de ditames constitucionais acontece em nome da preservação da ordem que proporciona o progresso.

Continua após a publicidade

Não há na história do Brasil um militar que tenha se transformado em pai da Pátria, protetor dos pobres ou supremo comandante, como ocorreu em vários países vizinhos. O fenômeno Hugo Chávez destruiu um bom exemplo de democracia que existia na Venezuela através de um acordo político chamado de Punto Fijo, semelhante ao Pacto de Moncloa, realizado na Espanha.

Nos dois casos, em defesa das liberdades democráticas. Chávez, ao contrário, trucidou adversários, acabou com a liberdade e morreu. Entregou o poder a um motorista de ônibus que foi mais longe, controlou militares através de benefícios e transformou o país numa espécie de santuário para traficantes de drogas. Dinheiro para os protegidos do sistema não é problema na Venezuela. Nunca houve nada parecido no Brasil.

Talvez seja pedir muito que algum dos Bolsonaro leia um livro ou se oriente com quem conhece a história política brasileira. Mas é necessário entender que o Brasil é maior que suas pequenas abstrações. Golpe de estado é assunto para profissionais da política ou para quem efetivamente tem a força do fuzil e apoio de importantes segmentos civis da sociedade nacional.

Salvo melhor juízo, ele não dispõe nem do perfil, nem do suporte indispensável para um movimento desta importância no Brasil. O que vai além disto é delírio.

Leia também:

  • O longo caminho do centro para definir alternativa a Lula e Bolsonaro.
  • No pior momento da pandemia, as igrejas evangélicas permanecem lotadas.
  • Covid-19: mortes e internações caem entre vacinados, aponta levantamento exclusivo.
  • Janot está na mira do Supremo, do STJ e do Tribunal de Contas da União.
  • Acusações do passado envolvem ONG administrada por Flávia Arruda.
  • O mal dentro de casa: a rotina de violência que resultou na morte de Henry.
  • Com leilão de aeroportos, governo tem sopro de renovação na área econômica.

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da S

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.