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Por Coluna
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Chiquita Bacana (por André Gustavo Stumpf)

A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e da opinião das massas

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 18 nov 2020, 19h48 - Publicado em 19 out 2020, 11h00

Em 1948, no centro de Manhattan, ocorreu um encontro de dois judeus ricos – um elegante, bem vestido, e outro mal trajado, descuidado, com barba por fazer.

Dessa conversa resultou profunda modificação nos rumos da política norte-americana na América Central e serviu como experimento para o exercício da autoridade de Washington nos países do sul ao longo do século vinte. É o início da utilização em larga escala daquilo que hoje se chama fake news.

Sam Zemurray, nascido em 1877 nas proximidades do Mar Negro, fugiu para os Estados Unidos por causa das perseguições a judeus em sua terra. Foi morar em Selma, no Alabama. Edward l. Bernays também era judeu emigrante, mas frequentava a alta sociedade em Nova Iorque. Ele se dizia o pai das relações públicas, uma especialidade que se tornou importante arma política, social e econômica do século XX.

No seu livro Propaganda, Bernays explica os fundamentos de seus estudos e as razões de seu trabalho. ‘’A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e da opinião das massas é um elemento importante da sociedade democrática. Quem manipula esse mecanismo desconhecido da sociedade constitui um governo invisível, que é o verdadeiro poder no nosso país (…) A minoria inteligente tem que fazer uso contínuo e sistemático da propaganda’’.

Sua teoria começou a ser aplicada na Guatemala, nos anos cinquenta pela famosa empresa bananeira, a United Fruit.

Sam Zemurray venceu sozinho. Começou com um investimento de US$ 150 e construiu um negócio milionário. Ele não inventou a banana, mas conseguiu popularizar o produto e fazer com que a fruta estivesse na mesa do café da manhã de milhões de norte-americanos. Ficou milionário, mas adquiriu péssima fama nos países em que operava.

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Ele não hesitou em invadir terras, tratar mal seus trabalhadores e sempre se compôs com os poderosos a preço de elevados subornos. Provocou guerras, colocou e tirou do poder diversos políticos, não pagou impostos e manipulou a política externa dos Estados Unidos. A dupla inventou o perigo comunista na América Central. Justificou a invasão de países e a derrubada de governos legítimos.

No princípio de 1950, a United Fruit operava em Honduras, Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica, Colômbia e em várias ilhas no Caribe. Gerava lucros astronômicos. A função de Bernays era tornar a imagem da empresa mais palatável aos olhos do público norte-americano. Ele produziu obra impressionante. Entre suas ações espetaculares uma é especial: foi ele quem levou Carmem Miranda para os Estados Unidos.

Chiquita Bacana se vestia de banana nanica. A atriz luso-brasileira arrasou em Hollywood, sempre coberta por frutas tropicais, participou de vários filmes e ajudou a vender muita banana produzida pela United Fruit. Essa história é narrada com maestria por Mario Vargas Llosa, fantástico escritor peruano, que tem em seu currículo um prêmio Nobel de Literatura. O livro chama-se Tempos Ásperos, editora Alfaguara.

No Brasil, o livro chega em momento apropriado. Dentro de trinta dias haverá eleições municipais. As fake news vão transitar com desembaraço. Quem mentir mais e com maior competência será vencedor. Em outro cenário, o governo federal está diante de pesada oposição internacional por causa dos problemas na Amazônia.

Alguns argumentos atendem a problemas particulares. Há muitas ações de relações públicas, no seu pior sentido, neste mundo de grandes interesses.

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A eleição nos Estados Unidos terá fundamento nas afirmações delirantes de Donald Trump. Mas seus delírios terão consequências no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Se Joe Biden vencer a eleição um dos primeiros atingidos será o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Será mais fácil substituí-lo do que abrir um contencioso com Washington.

É o caso do meio ambiente: é mais fácil demitir Ricardo Salles, reconhecido destruidor de florestas e uma espécie de general Custer a destempo, do que brigar com europeus.

O Brasil precisa entrar no século 21. O pensamento dominante nos centros de poder nacionais ainda não absorveu a ascensão da China como potência de primeira grandeza. O fluxo de comércio entre Brasil e Estados Unidos está no menor nível dos últimos anos. Queda livre. A relação comercial com a China, ao contrário, cresce aos saltos.

É urgente assinar o acordo do Mercosul com a União Europeia. O objetivo é gerar empregos aqui. É razoável que os dogmáticos sejam sacrificados. A consequência será reeleição ou derrota. Além disto, como já se viu, resta o rebolado da Chiquita Bacana para americano consumir, brasileiro ingênuo comemorar e a United Fruit faturar.

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense.

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