Centro de Gravidade (por Otávio Santana do Rêgo Barros)
Mercado persa de “compra e venda” de votos
Os estudiosos de estratégia conceituam centro de gravidade como o ponto a ser focado, para abalar o dispositivo adversário. Todas as energias físicas e morais das forças atacantes devem ser colimadas em direção a esse alvo.
Após a sua definição, os planos precisam deixar claro que a derrota do adversário não deve se configurar primacialmente por sua destruição física ou humilhação moral. Pode ocorrer também pela desestruturação de sua vontade de lutar. Pelo enfraquecimento do seu “animus”.
Algumas vezes é mais promissor para o projeto do vencedor, que o adversário não seja encurralado, sem opções honrosas. “Quando cercar o inimigo, deixe-lhe uma saída, caso contrário, ele lutará até a morte.” (Sun Tzu)
Estrategistas perspicazes sempre encontram fraturas no dispositivo adversário. Uma debilidade de caráter do líder opositor. Uma baixa vontade do povo em sacrificar-se pelo todo. Aliados influenciáveis, compráveis etc.
A política partidária brasileira vem se mostrando, em última instância, uma guerra de posição. A depender dos apoios de cada oponente e do momento analisado, transforma-se em uma escaramuça sanguinolenta. Uma verdadeira Batalha de Somme (1ª Guerra Mundial). Terreno conquistado apenas aos centímetros! Nenhum vencedor.
No caso atual, os prejudicados são os nossos soldados – a sociedade – ao não serem atendidos em suas necessidades coletivas e individuais, por absoluta inação dos homens públicos.
Qual é o verdadeiro centro de gravidade escolhido por esses atores, se imaginarmos que seus adversários são os entraves que impedem a conquista dos seus planos executivos de governo, o aperfeiçoamento no legislar ou as decisões em favor da efetiva justiça?
Nenhum outro que me seja iluminado, parece-me mais qualificado que a promoção de bem-estar social, diminuição das desigualdades humanas, celebração de justiça igualitária, sem acepção de qualquer teor.
É deplorável imaginar a possibilidade de que esses atores não visem a fazer o bem, e que apenas tenham foco em ganhos de caráter pessoal e grupal.
Ontem (01 Fev 2021), após a eleição dos novos presidentes do Senado Federal e da Câmara Federal, pareceu-me que o equilíbrio de poder tendeu em favor dos interesses do Poder Executivo, embora haja quem diga o contrário.
Perdão se enlaço Instituições que deveriam ser autônomas, independentes segundo a Teoria de Poder de John Locke, entretanto, na nossa República, o que se enxerga, repetidas vezes, são alianças de momento, que se constroem e descontroem em um piscar de novos interesses.
Não considero amoral o governo torcer por este ou aquele candidato, afinal seus projetos precisam ser analisados, aprovados ou rejeitados pelas casas legislativas. Todavia, a confirmar-se o que foi exibido pela imprensa como um mercado persa de “compra e venda” de votos, isso sim, é inqualificável.
Com fortaleza de caráter, própria de cidadãos de bem, oxalá se concretize a conquista do centro de gravidade definido por esses poderes, imaginando-se que eles compreendam o papel maior que devem desempenhar junto à sociedade.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros é general do Exército e ex-porta-voz da presidência da República. Escreve aqui às quartas-feiras.