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Cartas de Buenos Aires: O lado escuro do coração

Revi os filmes de Ricardo Darín, os clássicos antigos e, finalmente, no fundo de uma gaveta, encontrei um dos meus favoritos: “O lado escuro do coração”

Por Gabriela G. Antunes
Atualizado em 15 jan 2018, 17h09 - Publicado em 13 jan 2018, 13h00

Ficar em Buenos Aires em janeiro é como ser deixado para trás pelo circo. É cair da carroça. A própria cidade parece querer ficar sozinha. A temperatura é inóspita. Na quinta-feira, por exemplo, a sensação térmica era de 40 graus. É diferente de passar calor no Rio de Janeiro. Aqui não tem praia e a umidade envolve teu corpo como esses rolos plásticos que usamos para guardar a comida. Seus poros não respiram.

Surpreendentemente, essas condições causam uma espécie de nostalgia e de banzo de Buenos Aires. A cidade está ali, as férias te dão tempo para desfrutá-la, mas ela não está disponível. Da janela você a observa, mas não pode tocá-la. Quando todos ligamos os ares-condicionados ao mesmo tempo, a energia acaba. O sistema colapsa. Nos vemos obrigados a descer até as calçadas e reclamar junto com os velhinhos, que parecem que estavam esperando um motivo concreto para desfrutar do esporte nacional: queixar-se.

Coincidentemente, neste mês, numa troca de provedores do serviço, eu fiquei sem internet e sem TV a cabo. Encarcerada no meu próprio silêncio.

Ficou claro para mim como estamos despreparados para entreter a nós mesmos. Eu tentei ler, mas está quente demais para manter a concentração. Então eu tirei do armário o velho aparelho de DVD e resolvi, nos momentos de descanso, rever os filmes que tinha em casa.

Essa nostalgia de Buenos Aires foi me empurrando às produções nacionais. Talvez, nesse banzo, indiretamente, eu buscasse me reconectar com essa cidade em chamas.

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Revi os filmes de Ricardo Darín, os clássicos antigos e, finalmente, no fundo de uma gaveta, encontrei um dos meus favoritos: “O lado escuro do coração”. É uma produção argentina-canadense que usa como inspiração a poesia dos escritores Mario Benedetti (uruguaio) e Oliverio Girondo e Juan Gelman (argentinos).

A sinopse descreve um enredo “surrealista”, as andanças de um poeta e sua relação com o amor, a arte e a morte em Buenos Aires.

Nunca me pareceu que havia surrealismo no filme. As sensações, as paisagens, os cenários, os personagens assemelham-se a coisas muito familiares. São Buenos Aires. Um dos meus personagens favoritos é um francês que, como eu, vive como um estrangeiro na capital, transitando nesse mundo de poesia, arte e caos da metrópole.

“Eu gosto muito desse manicômio”, é dito no filme. “Sonhei em conhecer o país de Cortázar, de Borges, de Bioy Casares. Foi uma obsessão (…) É um caos que você não sabe onde irá levá-lo, é sempre a promessa do céu e do inferno ao mesmo tempo”, afirma-se dando as costas ao rio da Prata, em um dado momento.

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“É um lindo país. E tem muito futuro. Só precisa saber como sobreviver ao presente”, diz o estrangeiro.

O ano do filme era 1992. Em 2018 ainda não sabemos como sobreviver ao presente.

El lado oscuro del corazón (Divulgação/Divulgação)

Gabriela G. Antunes é jornalista. Morou nos EUA e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín. Escreve aqui todos os sábados

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