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Cabelos azuis (por Luis Fernando Verissimo)

Cabelos pretos significavam que o personagem era negro ou latino

Por Luis Fernando Verissimo
7 jan 2021, 13h18
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  • Quando as histórias em quadrinhos começaram a ser impressas a cores, notou-se que seus heróis ou tinham cabelos loiros ou, estranhamente, cabelos azuis. Vez que outra aparecia alguém de cabelo preto nas historinhas coloridas, mas era raro. O comum era o azul.

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    Não me lembro de, garoto, dar muita atenção ao fato. Era natural que, além dos seus poderes, os super- heróis também pudessem escolher a cor dos seus cabelos, inclusive o azul, por que não? Só anos mais tarde me dei conta: cabelos pretos significavam que o personagem era negro ou latino; amarelo ou azul, que o personagem era indiscutivelmente branco. Naquele tempo, na América, a distinção racial era importante. Continua sendo, mas confesso que sei pouco sobre o que os super-heróis de hoje têm na cabeça, e de que cor. Talvez ainda seja o azul.

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    Corte rápido. Li que, no Ano Novo, o céu de Trancoso, na Bahia, se encheu de aviões particulares querendo descer, a ponto de criar um problema para as autoridades da Aeronáutica. Que, sem entender de hierarquia social e da lista da “Forbes”, não sabia a quem dar prioridade para o pouso. Felizmente não houve uma tragédia, que eliminaria boa parte do PIB nacional. O pessoal chegava a Trancoso para se divertir em várias aglomerações, e quem aparecia com máscara era vaiado e chamado de maricas. As festas atravessaram a noite de ano-bom, e qualquer um podia entrar, desde que mostrasse prova de ter sonegado impostos no ano que acabava e de saber a senha da elite brasileira. Que — isto pouca gente sabe — é “cabelos azuis”.

    A senha não significa que a elite brasileira tenha cabelos permanentemente azuis que a identificam e garantem seus privilégios. Os cabelos azuis do código dos ricos significam o mesmo que significavam nas histórias em quadrinhos: são fronteiras bem definidas e intransponíveis de classe. E, se você protestar que essas fronteiras protegem uma elite criminosa na sua inconsciência, vai ver é por inveja das festas que eles dão. Sem falar nos aviões particulares.

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    (Transcrito do jornal O Estado de S. Paulo)

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