Do São João brasiliense, ficou a saborosa saudade dos arraiais promovidos pelo talento culinário de Socorro e do insuperável anfitrião Zé Jorge (Deputado, Senador, Ministro).
Eles importavam a encenação cultural nordestina com a estética, a culinária, e a musicalidade singularíssima para uma plateia suprapartidária e encantada com a beleza e animação da festa junina.
Como a pandemia aprisionou as pessoas e apagou as fogueiras em homenagem ao santo, sonhei com Brasília e, antes que o bafo das fogueiras políticas me alcançasse, entrei na casa de Zé Jorge. Salvo. Mas acordei pensando nas brasas e nas cinzas que marcaram o período do junino da política nacional.
Sobraram brasas e cinzas. O fogo brando parecia esperar a confirmação escatológica das labaredas do fim do mundo. Sabidamente, há dias, o Presidente da República recolheu-se em silêncio obsequioso. A refeição matinal entre os apoiadores – o café com sal – foi suspensa. Um surto de bom senso? A conversão do imutável Bolsonaro? O tempo dirá.
Algumas brasas, no entanto, permanecem vivas: os problemas atingem o círculo familiar e a “banda ideológica” do governo que nada mais são do que um punhado de escolhidos a quem foram reveladas verdades incontestáveis.
A maior, a mais desafiadora das brasas, é vencer a pandemia e recuperar a economia mergulhada em recessão.
E as cinzas? Não queimam, mas cegam. A mais tóxica foi a deixada pela insanidade do Ministro que deveria cuidar do que há de mais estratégico para uma nação: a educação de qualidade. Além do tempo perdido, a sucessão foi uma lambança e, há quem diga que Decotelli fez mais do que o antecessor: atestou que o governo Bolsonaro não é racista.
Outra montanha de cinza foi o resultado das bandeiras de companha jogadas ao fogo: combate a corrupção, irmã gêmea da o toma lá dá cá; e o abraço com o esperto centrão.
Por sua vez, ao se dissipar a espessa nuvem de fumaça “apareceu a margarida” (com crédito para ‘Roupa nova”), Fabrício Queiroz, o gestor da “rachadinha” e o Anjo, Frederik Wassef, advogado, roteirista e ator de filmes de ficção, o benfeitor que deu casa, comida e carinho a Fabrício Queiroz.
É preciso cuidado com esta história de “Anjo”: existe para algumas religiões, o bom, belo e virtuoso Lúcifer (aquele que leva a luz, etimologia latina) que quis tomar o lugar do Divino. Foi amaldiçoado. Virou o diabo. Agora existem dois que tanto podem ser bom, mau, anjo ou demônio.
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda