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Por Coluna
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Bolsonaro já era (por Mary Zaidan)

Ato confesso de interferência na PF

Por Mary Zaidan
Atualizado em 30 jul 2020, 18h55 - Publicado em 17 Maio 2020, 09h00

Ouvir a filha ou o filho por detrás da porta antes que ela engravide ou que o “moleque” encha “os cornos de droga” traduz com exatidão como o presidente Jair Bolsonaro enxerga o mundo e como aplica esse olhar nocivo às questões de Estado. Não à toa, considera normal exigir informações de “inteligência” da Polícia Federal, aquelas de coxia, colhidas às escondidas, do lado de fora da porta dos trâmites legais.

Foi o que fez ao pedir à PF que interrogasse um sargento de Mossoró (RN). Arrombou a porteira para tentar zerar as suspeitas sobre seu filho 04, o Renan, aquele que diz “pegar todas do condomínio”, entre elas a filha de Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco.

Um ato confesso de interferência na PF, que não exige nem vídeo de reunião ministerial nem processo da Procuradoria-Geral da República. Está lá no pronunciamento feito pelo presidente no dia em que o então ministro da Justiça Sérgio Moro pediu demissão.

Em pelo menos duas outras ocasiões, Bolsonaro interveio na PF: ordenou novas diligências quanto à autoria da facada de Adélio Bispo (confirmada e reconfirmada pela PF como ação individual, sem patrocínio ou mandante), e a investigação das declarações controversas do porteiro de seu condomínio no Rio.

Quando Bolsonaro iniciou a pressão para mexer na PF do Rio, por lá corriam investigações caras ao presidente, uma delas envolvendo o filho Flávio. Mas há outras histórias cabeludas que ligam o clã às milícias que têm de sumir da mira e, portanto, necessitam de gente de confiança na Superintendência, codinome “segurança” do Rio.

Não pairam dúvidas quanto à intromissão, que só cresceu em intensidade. Já a fazia em menor grau e recrudesceu porque, como ele próprio disse e a Advocacia Geral da União (AGU) confirmou, não ia “esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu”.

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Ainda que revele o calão da baixaria oficial, os trechos da reunião transcritos pela AGU com esses dizeres são dispensáveis para provar o ilícito.

Mas a reunião vai além. Tão além que a AGU não se envergonhou de soltar partes, mesmo as ultrajantes. Preferiu assumir a culpa por falas que Bolsonaro afirmara jamais ter dito e de outras que o comprometem para suplicar sigilo do restante ao ministro Celso de Mello. Confessou ainda que copiou o vídeo antes de entregá-lo ao STF, colocando-se em desleal vantagem em relação aos defensores de Moro.

Até então, sabe-se que o vídeo retrata sem filtros um governo que faz pouco dos demais poderes, com ministros que pregam a prisão dos integrantes da Suprema Corte e de governadores, que xingam o Parlamento e países amigos. Nesta segunda-feira, Mello vai vê-lo para decidir se dará ou não publicidade à peça. Melhor será que a íntegra venha à tona, não só para que o país possa conhecer o real perfil e a perfídia do governo, mas também para evitar que se escreva a história por versões de um lado ou de outro.

Seja como for, com ou sem vídeo, Bolsonaro está nas cordas. Não por outro motivo, aumenta o tom e acelera o risco-país. Não o econômico, há muito já debilitado, mas o institucional.

Em nome da reativação da economia e da cloroquina – medicamento defendido com unhas e dentes pelo venezuelano Nicolás Maduro -, Bolsonaro força a demissão do segundo ministro da Saúde em menos de um mês, enquanto a pandemia bate em mais de 15 mil mortos. Determina essencialidade para atividades periféricas e acusa governadores de desobediência civil por não abrirem academias, salões de beleza e barbearias.

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Desacata o STF que, por unanimidade, determinou que cabe aos governadores e prefeitos a decisão sobre medidas restritivas no combate ao coronavírus, incluindo a definição dos setores essenciais. Conclama empresários – especialmente os de São Paulo, estado do desafeto governador João Doria – para insurgirem contra as medidas de isolamento social impostas pela necessidade de proteger a saúde da população e impedir o colapso do SUS.

Incita a desobediência moral.

O papai Bolsonaro que acha normal e até obrigatório o uso de meios abusivos para bisbilhotar os filhos, que desconsidera o diálogo e tem como caso perdido a jovem grávida ou o filho que experimenta drogas, afirmando que nesse caso “não adianta mais falar com ele: já era”, talvez compreenda essa linguagem primária: Não adianta mais, seu governo já era.

 

Mary Zaidan é jornalista 

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